Enviada em: 04/04/2018

De um lado, homens poderosos com comportamentos ofensivos, do outro, os movimentos sociais em defesa de uma vida justa entre os gêneros e, no meio desse "fogo cruzado", as mulheres assediadas. Nesse cenário, não só a subnotificação, junto a falta de impunidade, é causa direta da persistência dos casos de assédio no Brasil, mas também, a cultura do estupro agrava, mais ainda, esse problema. Logo, coletividade e poder público devem unir forças com vistas a erradicar o assédio que tanto afronta a dignidade da mulher brasileiro.       Em uma primeira análise, vale ressaltar, a urgente necessidade de incentivar as denúncias e garantir a punição do assediador. Isso porque, em um país no qual, segundo os dados da Action Aid, quase 90% das mulheres alegam terem sidos assediadas, esperava-se um número diretamente proporcional de notificações às autoridades competentes e medidas punitivas impostas aos agressores. Não obstante, o que se vê na prática é uma subnotificação dos casos de assédio, ocasionada pelo despreparo dos agentes públicos que, em geral, acolhem mal essas vítimas, além de uma quase certeza de impunidade. Tudo isso intensifica a paralisia, o constrangimento e o medo vivenciados pela mulher assediada.        Por outro lado, a cultura do estupro, base do comportamento e do pensamento machista que normaliza o assédio, é construída, desde cedo nos âmbitos sociais. Não raramente, por exemplo, é possível ouvir no cotidiano as mulheres serem questionadas se suas ações foram adequadas, provocadoras ou insinuosas, legitimando a ideia de que homem está liberado para violar a intimidade feminina. Situações análogas a essa ocorrem também nas escolas, onde algumas meninas são rotuladas de "corrimão" - "todo mundo passa a mão" -, enquanto meninos com o mesmo comportamento são exaltados. Assim, fica flagrante a necessidade de que a discussão acerca da ideologia de gênero alcance, de fato, lares e instituições de ensino.            Urge, portanto, a necessidade de um diálogo entre a coletividade e o poder público para acabar com esse desrespeito a cidadã brasileira. Para isso, o Estado deve garantir a qualificação de funcionários públicos específicos para situações de assédio e uma lei justa, aplicada integralmente. As escolas do Brasil, por sua vez, devem, com propósitos educativos bem definidos, inserir na salas de aulas a ideologia de gênero e feminismo, para combater a disparidade entre os gêneros e incentivar a igualdade, aproveitando-se que todos os segmentos sociais constroem suas ideológias pautadas nessas bases de ensinamento. Assim, observadas a ação conjunta da sociedade e o poder público, alcançará o país a verdadeira posição de Estado Democrático de Direito.