Enviada em: 23/03/2019

No jogo de tabuleiro competitivo, Xadrez, há uma manobra estratégica conhecida como ‘’gambito’’, em que sacrifica-se um peão - peça de menor valor no jogo - com a finalidade de seguir uma estratégia que, mais tarde, suprirá a carência, em algum nível, de tal peça. Fora do tabuleiro, o agronegócio, analogamente ao gambito enxadrístico, sacrifica o meio ambiente em busca de obter vantagens lucrativas. No entanto, é notório que tal manobra não supre a carência da fauna e flora derrotados pela expansão descontrolada do agronegócio, persistindo-se, assim, o imbróglio que tal descontrole causa, seja pelo egoísmo exacerbado, seja pela negligência governamental.    A princípio, o individualismo contemporâneo, por parte das agências do agronegócio, é responsável pelo óbice vigente. Isso porque, conforme defendeu Gilles Lipovetsky na obra ‘’A era do Vazio’’, as pessoas, na pós-modernidade, tendem a se despreocupar com seus laços interpessoais desenvolvidos ao longo da vida, de modo que prefiram resultados lucrativos em detrimento de qualquer outro possível resultado. Em decorrência disso, com um ideário maquiavélico, o agronegócio, em busca do maior lucro possível, desmata descontroladamente sem se preocupar com os vários riscos de tal atitude, a nível regional e global - mudança na evapotranspiração e, por conseguinte, no regime de chuvas, em território brasileiro e, também, intensificação do efeito-estufa globalmente.    Outrossim, a negligência do Estado tem, também, responsabilidade pelo impasse. Isso decorre do século XX, período em que o Brasil - majoritariamente agro-exportador -, governado à época por Getulio Vargas, introduziu a chamada ‘’Marcha para o Oeste’’, que tinha como objetivo a interiorização do Brasil, por meio da agricultura. Em virtude disso, segundo Pierre Bourdieu na ‘’Teoria do Habitus’’, tal comportamento capitalista agro-exportador foi naturalizado e passado às futuras gerações. Destarte, hodiernamente, assim como no século passado, o governo, com o mesmo ideal, perpetua e incentiva tal comportamento deplorável do agronegócio, tão danoso aos biomas brasileiros. Bom exemplo disso é que, o ‘’arco do desmatamento’’ - região compreendida entre o norte de Tocantins ao sul de Rondônia - já diminuiu o bioma Cerrado em 67% de sua área original, segundo o IBGE.    Infere-se, portanto, que o agronegócio carece de limitações e acaba por destruir tudo que encontra pela frente. Em razão disso, o Câmara dos Deputados, em parceria com o Ministério do Ambiente, deve criar uma PEC - proposta de emenda à Constituição - que impeça a expansão do agronegócio até que os Biomas - como o Cerrado - se revitalizem, a fim de preservar o meio ambiente e seu carárater regulatório - no regime de chuvas, por exemplo. Dessa forma, não se sacrificará o meio ambiente para se ter lucro, como é no gambito enxadrístico.