Enviada em: 21/03/2018

Só precisamos de um leme Em meados do século XVIII, a sociedade francesa se organizava por meio de uma bipartição política (Girondinos e Jacobinos) entre pensamentos com viés de direita e esquerda, sendo o primeiro mais conservador e o segundo, revolucionário. Essa diferença resultou em uma segregação intensa em meio às diversas camadas sociais da França. De modo análogo, até hoje nota-se a existência de oposições ideológicas que se agravam devido aos fatores tecnológicos e culturais permeados no mundo. É evidente que o mundo globalizado sustenta-se pelo vetor de mídias sociais, as quais contribuem para a prorrogação desse conflito. Nesse sentido, as redes sociais são grandes ferramentas de comunicação e divulgação de ideologias e opiniões pessoais, sendo, desse modo, úteis no processo de expansão cultural. Entretanto, muitas pessoas as utilizam para promoverem discursos de ódio, postagens de "fake news" (notícias falsas), sobrepondo, desse modo, suas respectivas lógicas em detrimento dos direitos civis de outrem. A exemplo disso, cabe citar a criação exponencial de informações duvidosas durante a candidatura do atual presidente dos EUA, Donald Trump, feitas com o intuito de negligenciar o voto dos cidadãos estadunidenses. Além disso, é importante destacar o presente panorama de apatia por parte de muitos indivíduos da contemporaneidade. Segundo o filósofo Zygmunt Bauman, os seres vivem em um meio líquido, onde as relações são fluídas e oscilantes. Nesse contexto, o individualismo impera nas mentes de cada um, tornando-os indiferentes quanto aos ideais de outros; gerando, assim, um contexto de bolha social, na qual só é importante quem partilha dos mesmos pensamentos e ratificando a crítica feita por Caetano Veloso em sua música "Sampa": "É que Narciso acha feio o que não é espelho". Em consequência disso, tem-se a constituição de abismos segregacionistas entre os cidadãos, a formação de caráteres alienados e a resignação das inconstâncias cívico-políticas. Fica claro, portanto, que os princípios do lema francês, "liberdade, igualdade e fraternidade" só serão usados corretamente quando o leme do respeito for encaixado no barco da sociedade. Para tal, a UNICEF e as instituições de ensino devem elaborar programas, projetos e palestras que ensinem os estudantes -pois são os principais usuários das redes- a filtrarem os conteúdos, instigando-os a buscar pelas fontes das notícias, além da promoção de aulas com debates sobre os direitos civis e os limites entre a liberdade de expressão e a discriminação, orientando os alunos sobre os conceitos de empatia, discordar e manter o respeito, pluralismo político e relativismo ideológico. Só assim, esse conflito será amenizado, e o barco social encontrará o progresso civil e político.