Enviada em: 09/05/2019

A preocupação com a cultura no Brasil desembarcou em nossos solos latinos junto com a família real portuguesa, que trouxe em seus navios incontáveis livros, peças de arte e até mesmo músicos. Desde então toda a cultura depositada e/ou produzida aqui no Brasil se manteve nas mais altas classes sociais. Frutos de um hábito hereditário de não denominar arte aos mais pobres e mentes preconceituosas, desde os princípios nossos conteúdos culturais foram produzidos diretamente para a "nata" brasileira e de acesso exclusivo a estes também.       Em um país que sofre com o neocolonialismo e que projeta um "complexo de vira-lata", é mantido costumes desde épocas imperiais. Assim, ao se cogitar em criar pólos culturais somente com a chegada da família real, a cultura não é pensada visando mais pobres, sendo a arte totalmente restrita à um pequeno grupo. Outrossim, com uma população majoritariamente analfabeta e sem políticas  de educação publicas eficientes, boa parte das pessoas, mesmo com acesso a literatura e afins, não teriam como usufruir plenamente.       Ademais, é perceptível a segregação cultural, isto se dá de maneiras mais diretas, como ingressos mais caros -fugindo da média brasileira do salário mínimo- e a localização de teatros, salas de cinemas, entre outros em âmbitos elitizados e/ou distantes da periferia, ou de maneiras mais indiretas, como a restrição de conteúdos de caráter mais questionadores e reflexivos a locais frequentados pela classe alta ou de difícil acesso a moradores periféricos.       Para além disso, ao não criar políticas sociais eficientes que reintegrassem os negros na sociedade, eles foram obrigados a preencher as camadas mais pobres e, considerando todo o poder da arte de levantar questionamentos, mobilizar pessoas e mudar visões, essa segregação cultural não é apenas um hábito hereditário, mas também um ato racista e preconceituoso, criando uma relação de poder até mesmo na cultura.        Assim, para uma real democratização, a política publica deve partir desde o mais simples, como transportes bons que facilitem o acesso a locais onde tem a predominância da cultura e segurança na ida e na volta, até ações mais eficientes, como ingressos a preços populares, gratificações para garantir ao trabalhador uma carga cultural, bibliotecas públicas em todas as zonas regionais de uma cidade e até deslocamentos de certos conteúdos até os locais periféricos, podendo permitir um acesso mais justo por ambas as camadas.