Enviada em: 16/10/2017

A transformação das cinzas   O Ateneu, de Raul Pompéia, mostra a falha na estruturação do sistema educacional brasileiro do século XIX. Nesse modelo, a escola, sob o pretexto de transmitir os valores da sociedade, dissemina apenas a moral dominante da época, sem se preocupar com o poder transformador da educação. Nesse sentido, mesmo dois séculos depois, o potencial de modificação social a partir do ensino não é aproveitado, devido à desigualdade no acesso à educação e ao ensino conteudista.    Em primeiro plano, a ausência da universalização efetiva do direito à educação impede a formação de uma mentalidade crítica. Nesse sentido, apesar de ser garantido na Constituição de 1988, o acesso à educação não é possível para toda a sociedade. Isso ocorre devido a exclusão social de inúmeras crianças e adolescente, que, geralmente, por serem mais pobres, precisam trabalhar para suprir o déficit na renda familiar. Já que nem sempre é possível cumprir uma dupla jornada diária, muitos jovens ficam alheios ao poder transformador da educação.   Além disso, o ensino conteudista no Brasil impede um melhor aproveitamento dessa capacidade de analise crítica da sociedade por meio do sistema educacional.  Nesse contexto, de acordo com Paulo Freire, o Brasil vive uma educação bancária, em que o professor simplesmente deposita o conteúdo e se retira. Entretanto, esse tipo de ensino não contextualiza o conteúdo para a realidade do aluno, inibindo uma possível manifestação crítica em relação a condição social do estudante.     Torna-se evidente, portanto, que a capacidade da educação ser um veículo de mudanças sociais é desestimulada pelo currículo descontextualizado e pela evasão escolar. Para solucionar essa problemática, medidas são necessárias. Nesse sentido, o Ministério da Educação deve alterar a grade curricular, por meio da introdução de debates e projetos interativos, que estimularão o aluno a analisar a sociedade em que vive de forma crítica, a fim de aproveitar o potencial transformador da educação. Além disso, o governo federal deve ampliar a verba do "Bolsa Escola", por meio da Receita Federal, que inibirá a necessidade de trabalho infantil, a fim de universalizar o acesso à educação. Apenas assim, as cinzas do Ateneu, que é incendiado no final do livro, poderá dar lugar a uma nova realidade social.