Enviada em: 29/09/2017

Talvez Foucalt estivesse errado: no Brasil, a vigilância do Panóptico social é falha e não resolve, suficientemente, o combate do desperdício de alimentos. O filósofo, possivelmente, estaria assustado com os alarmantes dados - 1,2 milhões de toneladas de produtos alimentícios são desperdiçados mensalmente, enquanto a sociedade não vigia e ignora esse óbice. Essa constatação, que evidenciou o problema que atinge a economia do país e o seu IDH, aumenta o índice de insegurança alimentar, tornando-se essencial a busca de alternativas para resolvê-la.        É importante ressaltar, em primeira análise, as causas associadas ao desperdício de alimentos. Ampliando-se o sentido semântico do Panóptico de Foucalt, o olhar da sociedade funciona como instrumento de prevenção. No entanto, em uma análise amplíssima, a cultura da falta de planejamento do consumidor brasileiro, notadamente no processo de compra, no qual os produtos são obtidos em excesso, evidencia atos de inobservância. Além disso, durante o processo produtivo, por falta de investimento no modal de transportes, na tecnologia de coleta e no abastecimento, o problema persiste. Em meio ao descaso, a vigilância - o olhar - da sociedade não está funcionando, o que contraria a lógica de Foucalt.       Ademais, é necessário citar a repercussão do desperdício para o país. A economia brasileira, notadamente agrária, torna-se mais enfraquecida porque milhões de toneladas de alimentos são desperdiçados mensalmente. Outro problema, ainda mais alarmante, dá-se como consequência: na lógica capitalista, esses prejuízos encarecem o preço dos alimentos, o que torna o consumidor de baixa renda refém, aumentando, assim, a insegurança alimentar. É assustado que 20% da população brasileira sofra com esse problema, enquanto os culpados, que, em analogia à teoria da responsabilidade civil, são todos os cidadãos, parecem ignorar o problema. Por isso, deve haver uma mudança na mentalidade do brasileiro.        Desse modo, expõe-se a inobservância da sociedade, do Governo e das indústrias. Para resolvê-la, o Governo deve criar, nas escolas, e com regulamentação na BNCC, a chamada ´´Roda da Consciência´´, na qual, por intermédio da leitura de livros culinários, filosóficos - como os de Foucalt -, e de atividades lúdicas que envolvam, por exemplo, a reciclagem de alimentos, as crianças e adolescetes passarão a ter mais consciência do desperdício, visualizando melhor o problema. Outrossim, o Governo, em parceria com as indústrias agrárias, deve ampliar o modal de transportes no Brasil. As indústrias, também, devem investir em tecnologias de colheita e armazenamento avançadas. Destarte, os culpados tornar-se-ão os cúmplices da resolução do óbice, ´´enxergando-o com outros olhos´´.