Na obra de Machado de Assis "Memórias Póstumas" o autor-defunto Brás Cuba disse que, não teve filhos e não transmitiu a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. Acaso, ele estivesse certo em sua decisão, afinal é inconcebível que em pleno século XXI, em um país evidenciado pelo seu multiculturalismo, o índio ainda seja tratado com desdém e considerado ínfero. Á vista disso, a problemática persiste em razão do etnocídio acometido aos nativos, logo, a ineficácia do governo perante a delimitação de terra de origem indígena para fins agrícolas e a visão preconceituosa por parte da sociedade contribui intrinsecamente para a desvalorização da cultura dos aborígenes. Mormente, no período literário romântico, o autor José de Alencar em sua obra "O Guarani", descreve o índio Peri como um bom selvagem, corajoso e um forte guerreiro a fim de enaltecer a cultura nacional. Ressalve-se, porém, que esse índio é compreendido através de uma óptica idealizadora do romantismo, no entanto, está longe de compreender a realidade do índio brasileiro, tendo em vista que, em meio ao processo de colonização pelos europeus, os nativos foram escravizados e em seguida, sofreram um acentuado processo de aculturação. Por conseguinte, foram expulsos de suas terras apesar de terem sido resistentes, e com isso, seus territórios foram usados para a expansão do povoamento. No Brasil hodierno, as propriedades são usadas por latifundiários para agricultura, coordenados pela bancada ruralista e com isso, restringem o direito de posse das terras originárias dos aborígenes que são usadas por eles para atividades produtivas e sua sobrevivência. Convém enfatizar que, os índios são alvos de preconceito pela sociedade sobretudo por parte das populações rurais, apesar da miscigenação que é formada o povo brasileiro. Logo, resulta na sonegação desse povo, visto que muitos fazendeiros necessitam disputar o domínio de terras e por isso, utilizam de estereótipos desqualificando a imagem indígena. Não obstante, muitas pessoas agem com estranheza perante a cultura indígena advindo do pouco convívio com esse povo, pois conforme Émile Durkheim, o meio social determina as atitudes do indivíduo. Portanto, é preciso que o Governo Federal faça valer o direito de demarcação de terra reconhecido pela Constituição Federal, através de incentivos fiscais, políticas indigenistas e intensificação do apoio a Funai para que essas terras voltem a pertencer aos índios e seus direitos sejam garantidos. Somando-se a isso, o Ministério de Educação deve promover palestras realizadas por algum membro da tribo indígena para que os jovens saibam a importância da valorização dessa cultura, não só em sentindo propínquo -como no dia nacional do índio- com o intuito de atenuar os estereótipos enraizados para que as diversidades culturais sejam enaltecidas e tenha um convívio pacifico com os índios.