Enviada em: 31/10/2018

Embora a configuração cultural do Brasil seja híbrida, a desvalorização de culturas diferentes da "padrão", incluindo a indígena, aponta um contexto de menosprezo por parte da população brasileira, que insiste em classificar os indígenas como "selvagens", "inferiores" e "não civilizados". Essa visão etnocêntrica, infelizmente, é fruto de uma arraigada intolerância frente às minorias, advinda desde o Período Colonial.       A primeira geração do Romantismo, conhecida como Indianista, tem como característica a heroicização do índio, colocando-o como um herói nacional, entretanto, essa valorização só ficou no campo literário. É notória a negligência sofrida pelo povo indígena, principalmente no que diz respeito à falta de políticas públicas que garantam a preservação e qualidade de vida dessa parcela populacional. Segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), em 2016, ocorreram 735 óbitos de crianças indígenas menores de 5 anos. Tal dado demonstra a urgência de ações governamentais para que estes possuam acesso integral à direitos básicos, como a saúde.       Outrossim, é importante destacar a problemática da demarcação de terras indígenas. Para o índio, a terra é um recurso sociocultural, sendo necessária para o suporte da sua cultura e modo de vida. No entanto, parcela da população brasileira e, sobretudo, a bancada ruralista do Congresso Nacional, insistem em ignorar os direitos constitucionais em defesa dos interesses políticos e econômicos. Prova disso é a PEC 215, que propõe alterar a Constituição para transferir do Poder Executivo para o Congresso a decisão final sobre demarcação de terras indígenas, beneficiando, desse modo, os grandes latifundiários brasileiros.       Destarte, é evidente que a desvalorização indígena possui raízes históricas presentes até hoje. Portanto, cabe ao Ministério da Justiça, juntamente com o Poder Legislativo, assegurar a legislação vigente, através da criação de postos de fiscalização específicos para crimes contra indígenas, a fim de garantir segurança para esta população e a cristalização dos direitos constitucionais dos índios. Ademais, a escola deve buscar englobar a cultura indígena em seu currículo, através de palestras destinadas ao assunto simultaneamente à demonstração do modo de vida, objetos, características e afins, assim, criando um contato e estimulando a tolerância com a população que é base histórica do nosso país. Afinal, como dito no poema de Manoel Belizário Neto: "O povo índio merece toda consideração, pois ele foi dessa terra, o primeiro guardião".