Enviada em: 25/07/2019

A série brasileira “Coisa mais linda” retrata o cenário do Rio de Janeiro em 1959. O pensamento social da época evidencia a supremacia de uma lógica racista e discriminatória. Na trama, Adélia Araújo é uma empregada doméstica constantemente humilhada por suas raízes étnicas. A personagem, enquanto mulher negra e mãe solteira - é alvo do comportamento preconceituoso que afeta os grupos minoritários. Sessenta anos depois, é evidente a persistência dos reflexos escravocratas na sociedade brasileira. Nesse sentido, percebe-se que os quilombos se configuram como símbolo de resistência à imposição de valores escravistas e da proteção cultural afrodescendente.        Em uma primeira instância, observa-se a importância de analisar a temática sob um viés histórico-cultural. Os quilombos, surgidos durante o período escravocrata, se constituíam como espaços de libertação do povo negro. Além de servir como escape do regime autoritário e violento dos senhores, foram determinantes para a transformação da vida de milhares de escravos. Percebe-se, então, que essas comunidades possibilitavam não somente uma oportunidade de rebelação, mas também de alteração da realidade vigente. Os quilombos atuavam, portanto, como uma luz no fim do túnel, como demonstrado pela revolta liderada por Zumbi de Palmares em 1694.        Outrossim, é preciso considerar que o papel dos quilombos não se limita à uma forma de resistência no passado. Eles também foram determinantes para a proteção da cultura africana e se perpetuam até hoje como unidades de conservação identitária afrodescendente. É importante ressaltar que a escravização dos negros foi responsável pela abdicação de crenças primordiais, o que resultou não somente na perda da identidade cultural, como também na depreciação de sua própria origem. Observa-se, então, que essas comunidades contribuem para a proteção de um modo de vida marcado pela resistência à influência exterior e pela preservação de populações desfavorecidas historicamente no país.      Portanto, é mister que o governo tome providências para a valorização desses espaços na atualidade. Na busca pela conscientização da população, urge que o Ministério da Educação e Cultura (MEC) institua, por meio da Nova Base Nacional Curricular Comum, aulas sobre a realidade quilombola no século XXI na rede pública e privada de ensino. A iniciativa deverá contemplar a realização de seminários, palestras e rodas de debates com o objetivo de demonstrar a importância dessas comunidades e da sua preservação. Assim, promover-se-á o ensino da tolerância e do respeito aos jovens por meio de uma perspectiva histórica marcada pela resistência à exploração e dominação de povos.