Enviada em: 15/08/2019

Segundo o sociólogo Pierre Bourdieu, ainda que cada sujeito possua sua individualidade esta se entrelaça no contexto social dos diversos grupos e instituições das quais participa. Ao considerar esse olhar como ponto de partida para a internação involuntária de usuários químicos no Brasil, é nítida a influência de vários atores sociais sobre a construção desse problema. Nesse contexto, torna-se pontual não apenas questionar a indiferença de certos grupos de papel ativo nessa internação, mas também analisar seus impactos no organismo social.       Em primeira observação, é importante compreender a indiferença governamental e de instituições de tratamento quanto ao bem-estar e ao tratamento de dependentes. Nesse cenário, verifica-se a ótica de Bourdieu, na medida em que esses grupos agem de maneira a problematizar o tema. Cabe-se pontuar, atualmente, a infra-estrutura precária de centros de internação que, além de dificultar o tratamento, expõem os dependentes à condições desumanas, como o uso da força para contê-los e más condições de higiene, tudo isso em razão do descaso enfrentado por eles, afastando-os de uma recuperação saudável. Configura-se como determinante, dessa maneira, a necessidade da união do governo e de instituições de forma a melhorar as condições enfrentadas nas clínicas de reabilitação, de modo a promover condições mais humanizadas no tratamento.       Outro ponto relevante, nesse cenário, é como o contexto pós-moderno dificulta o combate à problemática. Nesse viés, confirma-se a ótica de Zygmunt Bauman, pois, em sua obra "O mal-estar na pós-modernidade", o pensador advoga que o indivíduo contemporâneo age de maneira irracional, por ser vitimado pela cegueira moral. Isso significa que a sociedade não alerta seus indivíduos para reconhecerem a internação involuntária como danosa ao corpo social, pois, na medida em que a vontade individual é negada aos usuários químicos problemas podem ser causados, como surtos psíquicos e violentos, em razão da abstinência e da abdicação da expressão pessoal do usuário. Compreende-se, portanto, o papel do corpo social na ajuda da promoção de direitos de dependentes que, em razão da sua situação, encontra dificuldades para reconhecer a necessidade de ajuda.       Haja vista as problemáticas envolvidas na internação involuntária no Brasil, é mister a implantação de mudanças para detê-las. A princípio, é fundamental que o Ministério do Desenvolvimento Social, em parceria com as clínicas filiadas ao governo, fomente o aparelhamento e a modernização dos centros de tratamento por meio de subsídios fiscais, de modo a oferecer melhores condições, bem como uma recuperação mais digna. Ademais, cabe ao Ministério da Educação a criação de propagandas nas mídias tradicionais, como televisão e rádio, que, por meio do estímulo ao reconhecimento e aceitação dos direitos das pessoas em condição de reabilitação, faça o corpo social tomar um papel mais ativo nessa questão. Com essas iniciativas, espera-se que o agrupamento social, proposto por Bourdieu, possa conduzir a relações mais humanizadas.