Enviada em: 10/10/2018

Brás Cubas, o defunto-autor de Machado de Assis, diz em suas "Memórias Póstumas" que não teve filhos e não transmitiu a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. Talvez hoje ele percebesse acertada sua decisão: a postura de muitos brasileiros frente a crimes de ódio na internet é uma das faces mais perversas de uma sociedade em desenvolvimento.     Primeiramente, é preciso ressaltar o impasse da fiscalização das ofensas ocorridas no ambiente virtual. Conforme os dados divulgados pela Safernet, entre 2012 e 2014, o número de denúncias de cyberbullying aumentou 500%. Essas denúncias estão conectadas à complexidade de se eliminar todas as fontes de divulgação de materiais caluniosos devido à alta propagação de dados propiciada pela internet. Com isso, o trabalho policial de contenção de tal avanço e de identificação dos infratores, quando eles se utilizam do anonimato, se torna demorado.     Além disso, constata-se como produto um prejuízo na qualidade de vida, sobretudo, das vítimas. Segundo Jean-Paul Sartre, a violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota. Nesse sentido, o fracasso é visto nos efeitos que são semelhantes tanto para o agressor quanto para o agredido, uma vez que, de acordo com Cléo Fontes, especialista em violência escolar, ambos podem apresentar déficit de atenção, falta de concentração e desmotivação para os estudos, assim como à depressão, ao isolamento social e, em casos mais graves, ao suicídio.    Fica claro, portanto, que medidas precisam ser tomadas. Desse modo, cabe aos órgãos especializados no combate aos crimes virtuais invistam tanto na aquisição de tecnologia quanto na contratação de mais profissionais, tendo como intuito melhorar o atendimento as denúncias referentes a esse tema. Assim, poder-se-á transformar o Brasil em um país desenvolvido socialmente, e criar um legado de que Brás Cubas pudesse se orgulhar.