Enviada em: 14/08/2019

Na obra “Macunaíma”, do autor Mario de Andrade, o protagonista da ficção personifica um herói sem caráter. Fora da literatura, a realidade apresentada pelo autor modernista em muito se relaciona com o contexto atual do Brasil, onde o “jeitinho brasileiro” resiste como parâmetro de comportamento social. Nesse sentido, considerando a fragilidade da lógica que aponta para a violação de normas sociais como sinônimos de virtude e esperteza, urge do estado e da sociedade civil enfrentar o problema.           Em primeira análise, a construção de parâmetros de conduta equivocados revelam carências educacionais que se sedimentam geração após geração. Nessa perspectiva, a falta de instrução sobre a conduta ética, aliada ao exemplo distorcido - pautado em vantagens pessoais em detrimento das normas -, alimenta essa frágil e perigosa lógica, que desprestigia o coletivo. Logo, como resultante, constrói-se cenário propício ao desrespeito geral pelas leis e costumes, contribuindo para a corrupção e enfraquecimento das instituições.              Em segunda análise, vale salientar que a população não compreende a nocividade de algumas condutas, aceitando-as como se virtuosas fossem. Assim, desde o ato de furar uma fila a subornar alguém, tem-se prevalecido a desacertada concepção de que os fins justificam os meios. Ademais, segundo Nelson Mandela, a educação é a arma mais poderosa que se pode usar para mudar o mundo. A celebre lição permite concluir que a superação desse problema passa pela educação institucionalizada de qualidade e do exemplo sócio-familiar no combate ao problema. Evidencia-se, portanto, a necessidade de uma nova abordagem ao tema.           Nesse sentido, caberia ao Estado, numa ação coordenada pelos Ministérios da Educação e Cultura, viabilizar a realização de palestras e eventos, no ambiente escolar e fora dele, com o patrocínio do executivo municipal, e franqueando o acesso a toda a coletividade, no sentido de instruir a sociedade sobre valores éticos, morais e a importância em não compactuar com o “jeitinho brasileiro” como forma de resolver todos os problemas. Somente com o devido enfrentamento o comportamento do anti-herói concebido por Mario de Andrade ficará apenas na ficção.