Enviada em: 26/09/2019

A coerção negativa.   Segundo Kant, filósofo deontológico da modernidade, ninguém deve usar outrem para atingir fins particulares. Contudo, tal preceito não é correspondido na sociedade brasileira contemporânea, dado que agir de forma desonesta se transfigurou em algo tanto amplamente aceito, quanto parte integrante da cultura do país. Por essa razão, faz-se mister a discussão acerca da persistência do "jeitinho" brasileiro, de modo a mudar a perspectiva social e liquidar tal conduta negligente à ética kantiana.             Primeiramente, é imperativo pontuar que a persistência do inescrupuloso costume popular se deve, primordialmente, à ausência de cobrança, quer seja pessoal, quer seja governamental. Isso se torna mais claro, por exemplo, ao se observar cenários cotidianos, em que alguém sonega impostos, muda fiações dos circuitos elétricos de suas casas para não pagar a energia utilizada, e poucos, principalmente o Estado, pressiona corretamente esse indivíduo. Essa ação tênue dos personagens externos - governo e cidadãos -, denota negligência e, assim, condiciona não só permanência dessas práticas, como também sua difusão. Faz-se imprescindível, portanto, a dissolução dessa conjuntura.         Em segundo lugar, cabe ressaltar que a prática contínua da corrupção escondida pela indiligência, considerada insignificante para os outros, possibilita, cada vez mais, a integração dela na cultura brasileira. Sob essa lógica, vale citar o sociólogo Durkheim, pois ele afirma que o indivíduo é sempre coagido pela sociedade e, dessa forma, é passível de influência e se torna correspondente aos hábitos sociais. Consequentemente, o homem é facilmente direcionado a agir da mesma maneira. Logo, a cultura do "jeitinho" é, indubitavelmente, parte do corpo social deste país, no qual poucos se sobressaem.      Em suma, são necessárias medidas que coíbam a insistência das condutas errôneas populares. Para tanto, cabe a participação do Governo Central de modo a acentuar as devidas punições contra quaisquer atos ilícitos, por meio multas e posicionamento firme do Estado, que cobrem a ação honesta das pessoas, para que haja uma pressão externa ao indivíduo, de modo a retirá-lo da comodidade. Além disso, é preciso que a mídia problematize o comportamento da coletividade através de propagandas, programações de TV, seriados e jornais, ao mostrar como os cidadãos agem no dia a dia, com o intuito de apelarem a uma intensa conscientização da coletividade. Dessa forma, a ética kantiana não será mais descartada e, a cultura transgressora, desvinculada.