Enviada em: 05/06/2019

Desigualdade e indiferença       É comum, nos meses de inverno brasileiro, serem publicadas notícias sobre pessoas que morreram durante uma madrugada de frio intenso. Esses indivíduos representam a parte da sociedade que vive em situação de rua, sem condições dignas de sobrevivência, cuja garantia está prevista na Constituição Federal de 1988. Diante disso, torna-se evidente a marginalização sofrida pelos moradores de rua, resultado da desigualdade social histórica e de padrões comportamentais da atual sociedade.       Segundo o filósofo Jurgen Habermas, as instituições sociais, responsáveis pelas leis e condutas da sociedade, são controladas por uma maioria política que é vitoriosa por conta de processos histórico-sociais. No Brasil, esse grupo dominante foi, durante séculos, uma elite agrária escravista que excluiu as minorias, como os negros e pobres, do processo de formação do país. Isso gerou uma alta desigualdade social, pois muitas pessoas não tiveram acesso à direitos fundamentais, como o de moradia. Segundo um estudo do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), atualmente, mais de 100 mil indivíduos vivem em situação de rua no país, o que é, claramente, uma consequência direta da desigualdade brasileira.       Além da exclusão social, o morador de rua sofre com uma sociedade fria e antipática. O sociólogo Durkheim, a partir do seu conceito de sociedade orgânica, diz que, com a ascensão do capitalismo, as pessoas passaram a se relacionar umas com as outras por aquilo que cada uma tem a oferecer, principalmente em termos econômicos. Portanto, o indivíduo em situação de rua, frente a esse individualismo exacerbado, tornou-se alvo de discriminação e indiferença, uma vez que não tem possui recurso econômico algum. Assim, essas pessoas se sentem cada vez mais solitárias e desamparadas, e ficam propensas a fazer uso de drogas e cometer suicídio para fugir dessa realidade opressora e cruel.       Conclui-se, então, que a esfera pública deve agir com o intuito de amparar a população em situação de rua. Na esfera econômica, deve-se realizar uma reforma tributária, em que a alíquota de imposto aumente à medida em que aumenta a renda do indivíduo. Assim, segundo o Instituto de Justiça Fiscal (IJF), seriam arrecadados mais de 80 bilhões de reais por ano. Com essa quantia, o governo poderia investir nos programas "Bolsa Família" e "Minha Casa Minha Vida", ampliando a oferta de habitação e garantindo uma maior maior estabilidade para os atuais moradores de rua. Concomitantemente, o Ministério da Educação deve criar um programa nacional de incentivo à empatia, por meio de palestras e debates em todas as escolas do país, para frear o individualismo e priorizar a boa convivência social.