Enviada em: 05/06/2019

Dignidade humana e a prerrogativa do preconceito     Em sua obra “Memórias póstumas de Brás Cubas", Machado de Assis narra a ojeriza social perante Quincas Borba – personagem que havia se tornado morador de rua. Fora das páginas, a realidade da população sem teto é análoga, já que enfrentam, além de sua perda gradual de dignidade, o preconceito enraizado na sociedade.   A princípio, é indubitável que o acesso a moradia é condição sine qua non para a existência de dignidade humana. Acerca disso, é válido reconhecer o discurso do psicólogo estadunidense Abraham Maslow, que em seu estudo da Hierarquia de Necessidades Humanas, qualifica como indispensável um lar para sanar, a priori, a necessidade humana de segurança. Desse modo, assim como elenca a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a garantia de moradia digna não é apenas um direito social, mas sim um dever do Estado e de todos os indivíduos que permeiam os sem-teto.     Além disso, é importante rediscutir a importância que a alteridade e o altruísmo têm na construção de uma sociedade menos discriminatória. Diante disso, é cabível rememorar o romance de Jorge Amado, “Capitães de Areias” – no qual os “meninos da rua" são considerados marginais e até mesmo criminosos. De maneira análoga, a sociedade contemporânea estabelece paralelos preconceituosos com os moradores de rua, e ao invés de ajudá-los, acabam demonstrando desprezo e aversão àqueles que, na realidade, necessitam de ajuda.    Destarte, é inconcebível o ser humano ,enquanto integrante da malha social, ser passivo a situação precária que vive a população sem-teto. Sob essa óptica, é imprescindível que o Ministério da Educação incetive nas aulas de Sociologia e História, a discussão sobre a importância de se garantir cidadania à todos os indivíduos da malha social, para dirimir a prerrogativa preconceituosa perante essa parcela de pessoas. Somado a isso, seria ideal que ONG’s e psicólogos que atuam com moradores de rua – em albergues ou casas de abrigo – levassem as histórias desses moradores, em forma de vídeo, para dentro das salas de aula, aproximando, desse modo, a visão acadêmica a um olhar mais humano de enfrentamento perante a causa dos moradores de rua.