Enviada em: 16/06/2019

O romance "Crianças na Escuridão", de Júlio Emílio Brás, narra dramaticamente o cotidiano de crianças de rua e sua batalha diária em busca das necessidades básicas de vida na metrópole paulista. Para além do recorte literário, essa realidade é contemplada diariamente por indivíduos sem lar, que vivem diariamente em posição marginalizada a mercê da caridade de terceiros, lutando para garantir o mínimo para a existência, o que denuncia um cenário desumano de humilhação e vulnerabilidade. Nesse sentido, torna-se fundamental adotar uma postura de amparo e de reinserção dos moradores de rua na sociedade, seja para retira-los da condição do desalento, seja para reduzir a "desigualdade vital".       No que concerne ao primeiro ponto, é válido salientar que os moradores de rua encontram-se em  posição de extrema vulnerabilidade, na qual a perda de autonomia e a submissão os legam a angústia e imobilidade social. Para elucidar essa questão, o filósofo Thommas Hobbes defende como desalento a triste súbita oriunda da convicção da falta de poder. Posto isso, os moradores de rua vivem em estado de desalento, incapazes de tomar as rédeas de sua existência devido a marginalização e imponderabilidade financeira, o que confere a dor e o sofrimento. Assim, o fenômeno dos moradores de rua promove uma desumanização da figura do indivíduo, resultado de uma erosão dos valores que dão sentido à vida em coletividade e fragmentação social, cultivando a desigualdade.       Já em relação ao segundo ponto, é coerente pensar que a população em situação de rua está imersa em um grande abismo de desigualdade que afeta, sobretudo, sua sobrevivência enquanto humanos. No tocante a esse tópico, o sociólogo sueco Göran Therborn, cunha o termo "desigualdade vital" referindo-se à grande redução da expectativa de vida observada entre as classes sociais. Desse modo, a péssima qualidade de vida, a qual estão expostos os moradores de vida no Brasil - ausência de alimentação balanceada, moradias subnormais, parco cuidado médico, contato com a criminalidade e com substancias  ilícitas - contribuem à drástica redução da estimativa de vida. Portanto, resgatar essas pessoas de uma situação tão insalubre revela-se imperativa para suprimir a desigualdade vivida.       A par do que foi exposto, cabe refletir acerca de medidas capazes de retirar os moradores de rua do contexto de vulnerabilidade no Brasil. A respeito disso, é dever do Governo Federal o desenvolvimento e ativação de projetos de resgate social e capacitação profissional, os quais garantem abrigo e alimentação adequados enquanto profissionaliza o morador de rua para um oficio e ocupação. Isso pode ser feito por meio da edificação de complexos habitacionais, elaboração de oficinas de artesanato, escrita e leitura e incentivos à contratação de moradores de rua. Tudo isso visando combater a desigualdade, reduzir a marginalização e assegurar as condições básicas e inerentes à vida.