Enviada em: 10/10/2017

Conforme defendeu Sérgio Buarque de Holanda, na obra "Raízes do Brasil", o brasileiro é um "homem cordial", no que diz respeito a seu caráter carismático e pouco afeito às leis. Ao seguir essa linha de pensamento, é factível afirmar a tendência da sociedade por criar meios alternativos de justiça, sobretudo com a atribuição de um poder individual acima do poder do Estado, a qual agrava a violência e compromete o exercício da democracia no país. Logo, é preciso desmistificar a justiça com as próprias mãos, para torna-se mais exequível o Poder Judiciário do Brasil.      A construção de novos conceitos de justiça pelos indivíduos é uma adversidade histórica e mundial. Na segunda metade do século XX, por exemplo, criou-se, na Colômbia, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), uma milícia contra o regime vigente naquele país. No contexto brasileiro atual, assim como foi no caso colombiano, a instituição de um poder paralelo justifica-se, na maioria das vezes, pela pouca presença do Estado no que tange à garantia de direitos pela população - como à segurança. Além deste fator, tem-se também causalidades pautadas na cultura da violência do indivíduo, o qual se vê no direito de julgar e punir de forma agressiva e repressora - fato retratado no caso do adolescente, em 2014, que foi amarrado em um poste no Rio de Janeiro. Neste contexto, cresce a construção de meios alternativos de justiça no Brasil em paralelo à acentuação da violência e do desrespeito aos Direitos Humanos.    Ademais, deve-se pontuar como esse quadro interfere no exercício da democracia no país. O sistema político no território brasileiro possui três poderes, interdependentes, os quais mantém o funcionamento do governo - sendo estes o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Diante desse fato, é indubitável que o comprometimento do poder da justiça afeta toda a gestão governamental, criando-se, dessa forma, uma cadeia de problemáticas - ora pelas dificuldades referentes à manutenção da ordem, ora pela perpetuação, por parte dos indivíduos, da relativização das leis - como analisou Sérgio Buarque - os quais perpassarão o rótulo de justiça com as próprias mãos para as gerações futuras. Logo, torna-se evidente que a criação de um novo poder não é uma forma correta de fazer a justiça no país.    Mediante ao exposto, percebe-se a necessidade de reverter essa questão social. Para tal fim, no intuito de desconstruir a cultura da violência, o Ministério da Educação deve adotar o modelo de "escola cidadã" - proposta por Paulo Freire - abrindo debates nas aulas de Sociologia e realizando palestras sobre a premência de conformar-se com os Direitos Humanos. Outrossim, o Poder Judiciário deve fortalecer sua função de julgar e punir, aumentando o número de policiais, remunerando-os melhor e alavancando a fiscalização em focos de violência, para alavancar a presença estatal na justiça do país.