Enviada em: 31/08/2017

A ideia de que o Brasil é um país tolerante a imigrantes não vai além da ilusão, provavelmente cultivada no final do século XIX para atrair mão de obra europeia e "embranquecer" a população, composta majoritariamente por negros ex-escravos, seguindo a ideia do Darwinismo Social. Se tratando de povos não europeus e não norte-americanos, o Brasil é, e sempre foi, tão xenófobo quanto os atuais partidos radicais europeus. O Brasil nunca acolheu imigrantes de braços abertos. A vinda dos africanos foi forçada, devido à escravidão. A adaptação dos indígenas à civilização branca foi uma evasão ao genocídio. A imigração europeia se deu por um viés eugenista de que o branco europeu era mais apto à civilização, promovendo o desenvolvimento. Por fim, a miscigenação ocorreu muito mais como uma forma de dominação do que de aceitação social, como acaba sendo retratado no romance Clara dos Anjos, na relação entre Cassi Jones e Clara dos Anjos. Além disso, se tal sociedade se quer foi capaz de emancipar a tolerância social entre seus nativos, o que será dos refugiados estrangeiros? Muitas vezes advindos de nações subdesenvolvidas e em conflito. Não obstante, a crise política, econômica e moral presente no país atualmente gera, assim como gerou nos EUA há pouco tempo e, em 1930, na República de Weimar, um sentimento nacionalista, que incita a xenofobia, sob o pretexto de que o estrangeiro estaria "roubando" o emprego de um nativo. Tal aversão intensifica-se a cada atentado terrorista ocorrido no "mundo ocidental", gerando maior adesão a ideais que buscam o cerramento de fronteiras e o preconceito contra o refugiado que, no caso de Mohamed, pode ser acusado falsamente de terrorista. É impossível amenizar o sentimento de xenofobia sem resolver a crise econômica, que pode ser amenizada através da resolução da crise política, com maior rigor e ética do Judiciário no vigor da Constituição, especialmente no que se refere a julgamentos de parlamentares corruptos, além de maiores investimentos governamentais na Polícia Federal e a abertura para investimentos privados. Também é preciso uma celeridade maior no julgamento de casos de xenofobia, como o sofrido por Mohamed Ali, buscando aplicar punições mais severas, de modo a desestimular tal comportamento. A sociedade, por sua vez, cumpre uma ação vital ao apresentar solidariedade para com as vítimas, como no caso citado. Por fim, ONGs e escolas poderiam ajudar a conscientizar a população de que a tolerância e o respeito são imprescindíveis para conviver em sociedade. Apesar do Brasil nunca ter sido o país amistoso e tolerante como se costuma pregar, não é tarde para buscar tornar essa ilusão realidade.