Enviada em: 18/06/2018

A obra intitulada "A Morte de Ivan Ilitch", de Liev Tolstói, discorre a respeito de como todos tratam a morte do protagonista, com individualismo e falta do senso de coletividade. Apesar de toda a subjetividade, a trama serve como um gancho para abordar a respeito da prática de aborto no Brasil a partir do momento em que é corroborada a dicotomia existente entre igualdade e legalidade. Dessa forma, discorrer sobre a temática e seus impactos no âmbito social e político: eis um desafio à contemporaneidade.     É necessário considerar, antes de tudo, os efeitos da criminalização do móvito. Após a Segunda Guerra Mundial, a descoberta da pílula anticoncepcional proporcionou à mulher a possibilidade de controle da fertilidade. Logo, foi neste quadro político que o aborto transformou-se em símbolo da liberdade feminina. Entretanto, décadas depois, o Brasil demonstra-se restrito a um movimento retrógrado. Pois, diferentemente de países que já legalizam a interrupção da gravidez, como, por exemplo, os Estados Unidos, o país latino-americano apresenta uma conjuntura que traz consequências culturais, na saúde pública e da mulher, tais como, o preconceito e a exclusão. De acordo com dados do Instituto de Bioética, 1 em cada 5 mulheres que já abortaram ilegalmente no Brasil, morreram.     Convém analisar, também, que a problemática reforça os traços de desigualdade. Segundo o sociólogo Zygmunt Bauman, a modernidade líquida é marcada pela fluidez das relações. Afinal, detentores de melhores condições socioeconômicas terão meios mais seguros, mesmo que ilegais, de praticar o aborto. Uma vez que a prática é considerada ilegítima a busca por clínicas clandestinas é notória em classes mais baixas. Conforme dados do Sistema Único de Saúde (SUS), ocorrem cerca de um milhão de ambloses clandestinas, sendo que, mulheres de baixa renda configuram-se como a maioria dos índices de mortalidade desses casos.     Fica claro, portanto, que para tornar viáveis os direitos femininos fazem-se necessárias resoluções. O Ministério da Saúde deve investir nas leis já existentes que legalizam o aborto - em caso de estupro, morte encefálica ou gravidez de risco à mulher -, em profissionais, como, por exemplo, médicos e psicólogos, que auxiliem todo o procedimento. Também, é de suma importância que a mídia, como grande formadora de opiniões, realize campanhas informativas abordando dados e entrevistas com mulheres que já praticaram tal ato, na tentativa de ser um canal de comunicação das minorias, contribuindo, de tal modo, para a luta em prol da descriminalização do aborto e da quebra de estereótipos. Só assim, com a mobilização de um todo, haverá mudanças na liquidez de Bauman.