Enviada em: 09/08/2018

Tirésias foi um personagem da mitologia grega, que, por já ter experienciado ser homem e mulher, sabia reconhecer os prazeres e dificuldades de cada um. Dentre todos os seus dons, sem duvidas, saber se colocar no lugar do outro era o mais importante. Diferente de Tirésias, quando se trata de aborto no Brasil, tanto homens quanto mulheres costumam faltar com empatia com aquelas que recorrem a esse procedimento. Durante a Guerra Fria, no anseio de ganhar as competições, muitas atletas engravidavam e logo abortavam para aproveitar das “bombas de hormônios” produzidas na gravidez. Atualmente, sabe-se que o aborto não é algo que as mulheres almejam ou desejam para as suas vidas, e sim, uma necessidade. Mas, no Brasil, muito se discute sobre a sua legalização; porém, não nota-se que, na verdade, tal procedimento já é ”legalizado” para mulheres cujo têm maiores condições financeiras. Pois as mesmas realizam o abortamento em clínicas estruturadas com equipamentos e médicos capacitados. Enquanto mulheres de baixa renda se submetem a clínicas clandestinas ou métodos caseiros, sem a supervisão de um profissional, o que, em muitas das vezes, se resulta em sua própria morte. Portanto, nota-se que o aborto, independente da sua legalização, ocorre e continuará ocorrendo no Brasil. Porém, com o auxílio e estruturas do governo, tal aprovação pode salvar mais de 47 mil mulheres por ano. Contrariamente, a justificativa daqueles que são contra a sua legalização é a preservação da vida, em especial, a do feto presente no útero da mulher. Usam argumentos como: “A mulher deve arcar com as consequências de uma relação sem proteção”, não levando em consideração a possível falha dos métodos contraceptivos. Para a maioria, uma interrupção da gravidez só é aceita em caso de estupro, o que faz-se duvidar da real preocupação com a vida. Pois o mesmo feto consequente de um estupro, pode ser “tirado” assim como o feto consequente de um furo no preservativo. Parecendo assim, que querem tornar aquela “vida” em um fardo ou uma punição para a mulher. Sem entender que o aborto já não se trata mais de opinião, e sim, de igualdade de diretos de saúde pública. Diante do exposto, é indubitável que ainda há muitos desafios a serem enfrentados acerca do aborto e sua legalização no Brasil. Para mudar esse cenário, cabe à população mudar sua percepção, ter mais empatia pelo outro e lutar juntos. Assim, o governo deve atender a sociedade e dar suporte e estrutura médica para a realização de abortamentos. Dessa forma, além de conceder esse direito à qualquer mulher, podemos salvar vidas e multiplicar o número de “Tirésias brasileiros”.