Enviada em: 11/08/2018

O Estrangeiro,uma das obras mais célebres de Albert Camus, releva a condição de um indivíduo cuja passividade diante da vida, o faz sentir um "intruso" em sua existência.Tal perspectiva pode ser inserida no contexto da legalização do aborto,uma vez que ao ser submetida à pressões culturais, morais e religiosas a mulher torna-se refém de leis que limitam seu poder de decisão, obrigando-a à interrupção gestacional clandestinamente.Nesse sentido, é essencial entender os fatores que levam essa prática a ser a 5ª causa de morte materna no Brasil.     Em primeira instância, a Constituição federal prevê a legalidade do aborto nos seguintes casos: estupro,risco de vida materno e inviabilidade fetal.Todavia, mesmo aquelas mulheres que se enquadram nessas categorias têm os seus direitos vilipendiados.Haja vista que o tema esbarra em questões bioéticas e religiosas, segundo as quais especula-se que a vida é gerada no momento da fecundação.Outrossim, devido ao despreparo da equipe hospitalar e o repúdio de parte do corpo médico a realização dessa prática, diversos centros de saúde negam atendimento em caso de estupro. Posto que exigem ,muitas vezes, o boletim de ocorrência, mesmo que isso não seja preestabelecido por lei, fazendo com que essas vítimas recorram a práticas de abortamento alternativas.     Vale ainda ressaltar que, segundo Simone de Beauvoir em sua obra O segundo sexo,ter poder de decisão não é uma maneira da mulher afirmar-se como tal, mas uma forma de torná-la humana em sua integridade.Contudo, não é isso que ocorre na prática.Uma vez que apesar da algumas mulheres conseguirem realizar o aborto em clínicas estrangeiras especializadas, a maior parte,são mulheres negras excluídas socialmente,que buscam centros hospitalares ilegais, muitas vezes com condições insalubres, e  por isso,levam à complicações severas como a esterilidade, a perda do útero, e em último caso, o óbito.     Levando-se em conta os fatos supracitados, é possível inferir que apesar da legalização do aborto ainda ser um desafio, agentes como o Ministério da Saúde em parceria com as unidades de saúde locais poderão criar um programa de planejamento familiar com a criação de cursos de educação sexual para jovens e adultos.somando-se a isso, a oferta de mais profissionais especializados no tema nos centros de saúde pública como psicólogos e assistentes  sociais, caso se opte pela adoção como alternativa, tais fatores juntos poderão promover um maior esclarecimento à população e mais humanização à mulher a medida que sua autonomia seja respeitada.