Enviada em: 20/08/2018

Práticas como tratar a parturiente de forma agressiva, impor procedimentos desnecessários e sem a autorização da mulher e impedir a presença de acompanhante durante o parto são algumas ações que representam a violência obstetrícia. Do histórico machismo enraizado na sociedade brasileira, o qual cria obstáculos para impedir o total controle das mulheres sobre seu próprio corpo, decorre essa violência. Nesse sentido, fatores de ordem cultural e governamental caracterizam a problemática.      É importante pontuar, de início, que a cultura patriarcal que persiste na sociedade atual e é responsável por moldar comportamentos e valores reflete diretamente na questão. A partir da absorção de ideias que pregam, mesmo de forma velada, a inferiorização do feminino e a consideração desse como sexo frágil, as mulheres passam a ser vista como menos capacitadas e em alguns casos perdem a autonomia, como durante  trabalho de parto, quando, muitas vezes, são desmoralizadas e submetidas a situações humilhantes. Tal fator pode ser ratificado pelo sociólogo Bourdiev, cuja corrente de pensamento afirma que o indivíduo interioriza o que lhe é transmitido e exterioriza aquilo que foi absorvido. Diante disso, conclui-se que pequenas ações machistas, como contar piadas que objetificam a mulher, sustentam e permitem atitudes de proporções maiores, como a violência obstetrícia.      Outrossim, vale ressaltar, como consequência dessa própria cultura, a falta de representação política das mulheres no Brasil. Consoante Aristóteles na obra Ética a Nicômaco, o governo deve se comprometer a garantir a felicidade da população. Entretanto, a completa aplicabilidade dessa ideia não é possível em decorrência do fato dos altos cargos políticos serem ocupados, majoritariamente, por homens brancos, os quais são incapazes de compreender totalmente as dificuldades enfrentadas pelas minorias, como mulheres, negros e povos indígenas. Prova disso é a pesquisa do site uol que mostrou ser apenas 16% o número de mulheres no Congresso Nacional. Logo, uma vez que apenas elas sabem do desrespeito que sofrem, é fundamental que as mesmas ocupem lugar de fala e de poder.      É notória, portanto, a relevância de fatores de cunho cultural e governamental na temática supracitada. Nesse viés, cabe à escola o papel de desconstruir valores machistas e promover ideais de equidade entre meninos e meninas. Tal medida pode ser efetivada por meio de palestras, trabalhos dinâmicos e debates em sala de aula. Ademais, é essencial que o governo promova maior representatividade política no Congresso por meio da maior rotatividade nesses cargos e de cotas para minorias historicamente marginalizadas e discriminadas. Para isso, é necessária a sanção de uma lei que permita a realização dessa proposta. Poder-se-á, assim, promover maior felicidade da população, proposta por Aristóteles, ou, pelo menos, reduzir sofrimentos desnecessários.