Enviada em: 24/10/2018

‘’Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que vendo, não veem’’. O excerto do livro ‘’Ensaio sobre a Cegueira’’ de José Saramago critica uma sociedade invisual. Analogamente, tal obra se assemelha ao cenário contemporâneo, visto que o corpo social é inobservante sobre a violência obstetrícia em debate no Brasil, fruto da negligência governamental e de configurações inferiorizantes.  A princípio, o descaso estatal corrobora no antagonismo. Nesse sentido, o obstetra francês Michael Odent afirma que para mudar o mundo, é preciso antes, mudar a forma de nascer. Contudo, a prática deturpa a teoria, isso se reflete na forma que as parturientes são tratadas sobretudo no SUS, uma vez que atrelado aos comentários que denigrem a imagem da mulher, são submetidas à mutilações desnecessários sem o consentimento da paciente para aceleração do parto. Outrossim, a falta de atuação do Poder Público inviabiliza o combate à desvalorização e violência humana.   Não obstante, bases intrínsecas dão subterfúgios ao quadro vigente. Mormente, isso decorre do modelo machista e a mecanização desse processo que viola o corpo e os direitos  das grávidas. Ademais, a sociedade então, por tender incorporar as estruturas sociais nas quais são impostas à sua realidade, conforme defendeu o sociólogo Pierre Bourdieu, naturalizou e reproduziu tal conduta ao longo do tempo. Destarte, é notório que comportamentos atuais recebem influência desse contexto.   Torna-se evidente, portanto, que há entraves para resolução do problema. Logo, é necessário que o Tribunal de Contas da União, deve direcionar capital que por intermédio do Ministério da Saúde, será revertido em planejamento obstetrício por meio de treinamentos para médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem de hospitais e maternidades. Nessa ação, serão instruídos a respeitar as fases biológicas e psicológicas do processo de nascimento, com vistas a oferecer um atendimento mais humanizado para as mães e que se sintam seguras. Dessa forma, como proferia Saramago '' Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.''