Enviada em: 25/10/2018

Os seres humanos constroem sua história, mas não da maneira como querem, pois há situações anteriores que condicionam o modo como ocorre essa construção. Essa ideia, parafraseada de Karl Marx, corrobora o fato de que as ações individuais são limitadas à essência, na qual o sujeito está inserido. Ao considerar esse olhar como ponto de partida para a violência obstétrica no Brasil, é nítida a influência da construção posterior de hábitos e de comportamentos sobre a atualidade. De modo que, é pontual não só observar a influência de uma sociedade tradicionalmente machista sobre o tema, mas também como o contexto pós-moderno cataliza essa problemática.       Em primeira observação, é importante compreender como uma sociedade tradicionalmente machista pode favorecer a persistência desse tipo de violência. Atesta-se, assim, a percepção de Marx, na medida em que situações passadas, como a formação social brasileira, repercute no presente. Aliás, vale ressaltar que práticas machistas são cada vez mais comuns em partos, como é o caso do "ponto do marido", prática que traz benefícios aos homens que se relacionam com essa mulher, enquanto é dolorosa e desconfortável a ela. Dessa maneira, é visível a necessidade de se buscar meios de inibir esse tipo de prática que, infelizmente, está se tornando cada vez mais comum.        Outro ponto relevante, nesse cenário, é como o contexto pós-moderno cataliza a violência obstétrica. Nesse perspectiva, fundamenta-se a concepção de Zygmunt Bauman, pois, em sua obra "O mal-estar na pós-modernidade", o pensador advoga que o indivíduo contemporâneo age de maneira irracional por ser vitimado pela cegueira moral. Isso significa que a sociedade não alerta seus indivíduos para observarem e reconhecerem essa violência como um problema. Vê-se, assim, que somente por meio de uma reestipulação de hábitos e de valores, há a possibilidade de acabar com esse problema e vivermos, de fato, numa sociedade democrática.       Haja vista as problemáticas decorrentes da violência obstétrica no Brasil, medidas devem ser tomadas para mudar o quadro atual. É fundamental que o Ministério da Justiça, em apoio com hospitais, incentive denúncias anônimas por meio da criação de delegacias e atendimentos especializados que, fazendo valer na prática as leis já existentes, possibilite a repreensão dos casos dessa violência. Ademais, cabe ao Ministério da Educação a criação de políticas educacionais que, ao serem implantadas no ensino público, favoreçam e estimulem a formação de uma sociedade mais alerta e mais crítica sobre o tema, aumentando, portanto, o envolvimento dos indivíduos como um todo. Com essas iniciativas, espera-se que os indivíduos passem a seguir os alertas lançados por Marx, e construir, de fato, uma sociedade mais humanizada.