Enviada em: 25/10/2018

"Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que vendo não veem". O excerto da obra modernista "Ensaio sobre a cegueira" de José Saramago, critica, por meio do uso de metáforas, a alienação de uma sociedade que se torna invisual. Fora do universo literário, tal obra atemporal não foge da cegueira contemporânea na qual o tecido social brasileiro não enxerga as alternativas para reduzir o analfabetismo funcional. Nesse aspecto, dois fatores são relevantes: a inobservância governamental e a questão histórica.      Em primeiro plano, vale ressaltar, que a negligência do governo representa uma das principais causadoras do impasse. Destarte, o iluminista Rosseau, no contexto da Revolução Francesa, afirma o papel do Estado em garantir igualde jurídica. Contudo, a prática deturpa a teoria, embora seja garantido na Constituição Federal de 1988 o direito à educação, para muitas pessoas tal fato é negado. Em virtude do frágil investimento do poder público em oferecer uma boa estrutura educacional aos brasileiros, no que tange, principalmente, ao analfabetismo funcional. Diante disso, muitos cidadãos, apesarem de terem o ensino médio e/ou superior completos, por limitações no aprendizado não conseguem interpretarem, compreenderem ou fazerem cálculos básicos, assim assinatura de contrato, leituras de jornais e placas tornam-se um desafio cotidiano para eles. Desse modo, é inadmissível que o abandono do governo em relação às demandas sociais retratadas no século XVIII ainda persistam.     Outrossim, convém frisar que a herança histórico-cultural potencializa atos inconstitucionais. Isso decore desde a colonização brasileira, momento em que os jesuítas se preocupavam apenas em alfabetizarem os índios sem estimularem os seus senso críticos e a capacidade interpretativas. Análogo a isso, a sociedade, então, por tender a incorporar as estruturas sociais que são impostas à sua realidade, conforme defendeu o sociólogo Pierre Bourdieu, naturalizou e reproduziu o pensamento da problemática passível e alheia de soluções. Desse modo, não é à toa que somente 8 a cada 100 pessoas tem o domínio perfeito da leitura no Brasil, segundo o site Administradores.       Torna-se evidente, portanto, que o analfabetismo funcional é um antagonismo a ser combatido. Para tanto, é mister o Ministério da Educação, em parceria com as bibliotecas, criar um projeto de leitura no Brasil, por intermédio de professores para incentivarem debates educativos com alunos e as famílias nos centros educacionais sobre a importância de lerem e estimularem a interpretação. Nessa ação, as livrarias públicas ofereceram os empréstimos de livros para a população e os alunos após os debates, ao término da leitura será repassada a obra escrita para outra pessoa, com o fito de estimular o compartilhamento e o hábito textual. Dessa maneira, será combatida a cegueira dita por Saramago.