Enviada em: 17/03/2019

Com o evidente processo de precarização do ensino público no Brasil, diversas pessoas são alfabetizadas sem conseguir desenvolver suas habilidades de análise, interpretação e crítica de diferentes gêneros textuais. Dessa forma, mesmo com diplomas, menos de 10% dos brasileiros demonstram proficiência da sua língua nativa, segundo o Inaf (Indicador de Analfabetismo Funcional), o que é prejudicial para a compreensão e construção das visões de mundo dos indivíduos.    Primeiramente, verifica-se que existe interesse das classes dominantes de manter essa conjuntura social no Brasil. Devido à alfabetização sem crítica, torna-se muito mais fácil desenvolver um projeto de hegemonia a partir da indústria cultural, estratégia já descrita, ainda no século passado, por Adorno e Horkheimer, sociólogos alemães. Sendo assim, o analfabetismo funcional contribui com uma sociedade mais estratificada que mantém os privilégios dos indivíduos mais ricos enquanto alienam a classe trabalhadora, principal afetada pela educação pública de má qualidade, por meios de comunicação de massa.   Concomitantemente a essa dimensão social, quando o escritor António Antunes salienta a importância da leitura e do enriquecimento cultural para a emancipação de um povo, ressalta-se a necessidade de que cada cidadão brasileiro tenha o direito de aprender a ler, entender a mensagem e conectar fatos.  Contrariamente a essa lógica, não existe um esforço político, seja da sociedade civil organizada ou dos seus representantes, em prevenir ou evitar o analfabetismo funcional. Entretanto, existe o desejo geral de atingir a qualidade de vida dos países desenvolvido em uma nação que, conforme o Ibope, 30% das pessoas nunca tiveram a oportunidade ou vontade de comprar um livro.   Portanto, ao compreender que só é possível evoluir como país quando cada indivíduo pode crescer juntamente, deve-se iniciar um movimento de combate direto ao analfabetismo funcional, marca da desigualdade social do país. Para isso, é necessário que as Secretarias de Educação estaduais, em união às universidades e às organizações sociais, possam oferecer um Programa de Alfabetização e Interpretação. Isto é, universitários da área de pedagogia e letras devem ter a oportunidade de estagiar nesse tipo de programa, nos espaços  de instituição educacional cedidos pelo Governo Estadual, ao lado de voluntários para atender pessoas de todas as idades. Finalmente e, só assim, poderemos iniciar meios que reúnam a população para o incentivo da leitura e visão crítica, próxima da emancipação do seu povo que, ao compreender sua realidade social pela leitura, consoante António Antunes, jamais correrá o risco de ser escravizado.