Enviada em: 20/04/2018

"Olho por olho, dente por dente e o mundo acabará cego". Esse pensamento do pacifista Mahatma Gandhi reflete a primordialidade da justiça para a construção e manutenção de uma sociedade sadia. No entanto, o Poder Judiciário brasileiro tem encontrado muitos muros para o exercício da justiça, não só devido ao acúmulo de processos judiciais, fruto de uma marcante cultura judicialista, como também a falta de profissionais que atendam a crescente demanda. Assim, é preciso que a justiça caminhe em busca da dissolução desses muros e prime pela construção de pontes.  No campo da Sociologia, Jurgen Habermas afirma que, na contemporaneidade, as relações sociais são construídas com base na complexidade de interesses, o que requer diálogo permanente entre os atores sociais. Sob essa perspectiva, muitos dos processos judiciais empilhados, têm como gênese conflitos ocasionados por uma mera falta de diálogo e interesse em conciliação entre as partes, onerando ainda mais a carga judicial. Nesse cenário, é comum presenciar, no cotidiano, frases como "vamos nos resolver na justiça" ou "vou chamar o meu advogado", transformando, assim, qualquer caso em um processo judicial. Dessa forma, é lamentável o enraizamento da cultura judicialista, pois evidencia o quanto o cidadão brasileiro tem se utilizado da Lei para dar consistência à falta de empatia e usá-la de subterfúgio para envaidecer-se e embasar a individualidade. Concomitante à forte cultura judicialista, o país, característico pela dimensão continental, carece de profissionais que atendam tal demanda. Segundo o Conselho Nacional de Justiça há um juiz para cada cinco mil processos em julgamento. Essa situação caótica torna visível a dificuldade de equacionar o numero de profissionais com a quantidade de processos, sem levar em conta a burocracia, que contribui significativamente para a morosidade dos julgamentos. Por esse viés, a filósofa Hannah Arendt, afirma que toda sociedade em um momento se vê em uma encruzilhada: ou se acredita em uma ideia de justiça que será atendida por uma estrutura estatal ou deixa de acreditar nas instituições. Nesse contexto, o setor judiciário, infelizmente, tem gerado o descrédito da população, o que dificulta a compreensão e co-participação do cidadão na resolução dessa problemática. A crescente demanda de processos judiciais somado à falta de profissionais, são, portando, empecilhos para um exercício efetivo do poder judiciário brasileiro. Para tanto, é premente que o Conselho Nacional de Justiça, em parceria com os tribunais regionais e OABs, promovam ações de conciliação pelos Estados brasileiros, de modo a contar com a participação de estudantes da área de Direito, concluintes e profissionais da área, com o objetivo de estimular soluções amigáveis e acordos pacíficos, promovendo, assim, o alívio do setor. Com isso, a Justiça brasileira exercerá o seu importante papel.