Enviada em: 15/06/2017

O século XX trouxe com suas novas tecnologias, facilidades, e oportunidades, a liquefação dos pensamentos e dos laços afetivos entre os seres humanos. Os tempos são líquidos, porque os desejos mudam rapidamente, e pouco é feito para durar, para ser sólido. Inquestionavelmente, a sociedade atual foi submetida a um momento de incertezas. A intolerância ao sofrimento, concomitante à necessidade de ascensão no mundo globalizado, imposta pelo capitalismo desenfreado, é uma contradição que torna o mundo cada dia mais desconectado e desamparado.  Em sua obra Modernidade Líquida, Zygmunt Bauman, filósofo polonês recém falecido, com uma fusão de mestria e simplicidade, traduziu de maneira brilhante a história vivida pela modernidade contemporânea: “ela é leve, líquida, e mais dinâmica que a modernidade sólida que suplantou. ” Isso porque os indivíduos enxergam uma maior vantagem de beneficiarem a eles mesmos. O individualismo do Homem atinge, hoje, a maior intensidade, assim como o capitalismo que move e desconfigura sua essência. As pessoas, quando se deparam com novos sabores, novos aromas, novas texturas e novas oportunidades para a autorrealização, acabam esquecendo-se dos dois aspectos mais importantes: o amor pelo próximo e a solidariedade.  Diante da multiplicidade de escolhas e horizontes, surgem as frustrações e a angústia intermitente; logo, a vida humana é marcada basicamente pelo sofrimento. O limiar de intolerância a cada desconforto parece ser menor. Em uma vida regida pelo mercado de consumo e pelo status social, a lealdade da modernidade sólida perde espaço para pessoas mais frágeis e de mentes tristes e doentes. Elas já não se unem a fim de comemorar as conquistas e partilhar destinos que sejam permanentes. Elas buscam entretenimento, diversão rápida, e são surpreendidas negativamente por uma sociedade de interesses que não visa a dedicação ao próximo. À vista disso, não basta que pessoas sejam livres para pensar. Elas precisam selecionar suas prioridades com mais maturidade e humanismo. É preciso que todos compartilhem ideias de paz e de como ajudar aqueles mais vulneráveis, e façam uso das redes sociais, não pela facilidade de construir e/ou deletar relacionamentos a seu bel-prazer, mas pela necessidade de transformar esse mundo de conformismos em um mundo de mais igualdade, compaixão, solidariedade, justiça, ou seja, em um mundo de mais união humana. A diversidade de tecnologias e de escolhas deve ser utilizada para promover uma ampliação do território por onde circula a informação. A racionalidade e a visão crítica e solidária devem ser reinseridas na sociedade com urgência.