Enviada em: 06/09/2018

Em sua obra "A Gaia Ciência", Nietzsche define "amor fati" como sendo o conceito relacionado à aceitação do destino da vida, fazendo prevalecer uma paixão individual para com as diferentes fases vitais. Entretanto, a crescente população idosa brasileira, beneficiada pelo aumento da expectativa de vida nacional, enfrenta certos entraves que dificultam a aplicabilidade prática desse conceito filosófico. Nesse contexto, vale destacar a precariedade da saúde pública e o preconceito social existentes no país.    Em primeiro lugar, a longevidade de uma população necessita estar acompanhada de um serviço de saúde eficaz, pois este é determinante para a garantia da qualidade de vida. Contudo, a deficiência qualitativa do Serviço Único de Saúde (SUS), observada em questões como intensas filas e falta de leitos, afeta diretamente os idosos brasileiros, haja vista que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 70% desses indivíduos dependem da saúde pública. Portanto, é de extrema urgência que o SUS passe por melhorias e deixe de representar um obstáculo à qualidade de vida da população idosa.    Além disso, o aumento da expectativa de vida no Brasil também enfrenta uma problemática cultural: o preconceito social. Causa disso, segundo o psicanalista Jorge Forbes, é a associação histórica entre velhice e morte, gerando um certo desprezo social em relação à terceira idade. Outrossim, o avanço do meio técnico-científico-informacional possibilitou com que o "atraso tecnológico" dos idosos também se tornasse um potencializador da ótica discriminatória. Dessa forma, medidas educacionais e culturais são de suma importância na busca pela reversão desse cenário social.    Dessarte, a ampliação da longevidade da população brasileira passa por infortúnios governamentais e sociais, sendo necessárias reformas em ambas as esferas. A princípio, urge que o Governo Federal, por meio de parcerias com órgãos de saúde, invista fortemente na gestão e infraestrutura do SUS, ampliando o número de profissionais e de leitos hospitalares em todos os municípios do país, o que possibilitará melhor qualidade de vida aos idosos. Posteriormente, é papel das escolas, públicas e privadas, por intermédio de reorganizações das ementas escolares, criarem a Semana do Idoso, que, além de promover o ensino tecnológico gratuito aos indivíduos da terceira idade, contenha atividades socioculturais com os jovens, realçando a importância de respeitar essas pessoas, para que amenize o preconceito social. Assim, os idosos poderão colocar em prática o conceito amoroso nietzschiano.