Enviada em: 30/07/2018

Constantemente retratadas em obras do Ultrarromantismo, as doenças, a exemplo da Tuberculose, exerceram grande influência na sociedade oitocentista. Entretanto, o impacto das mazelas não se restringiu à geração de Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu, mas pode ser notado hodiernamente ao analisar as tentativas de combate aos males que acometem o corpo social. Nesse viés, insere-se a prática da automedicação como alternativa para a amenização de sintomas de maneira rápida. Contudo, tal ato pode ser extremamente maléfico aos indivíduos, seja por promover a intoxicação, seja por selecionar bactérias resistentes a medicamentos.        A priori, convém ressaltar os efeitos ocasionados pela manipulação equivocada dos compostos medicinais. Nessa vertente, dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas indicam que, em 2011, foram registrados quase 30 mil casos de intoxicação por remédios no país, devido à ingestão de doses acima da recomendada em virtude da falta de instrução profissional; soma-se a esse cenário o despreparo dos cidadãos e a insuficiente consulta às bulas dos medicamentos, tem-se justificado o pensamento do toxicologista Anthony Wong, de que a diferença entre o remédio e o veneno está na dose. Ademais, o desconhecimento dos princípios ativos aumenta as chances de superdosagem, uma vez que, medicamentos para diferentes sintomas podem apresentar o mesmo composto e, quando ingeridos simultaneamente, a ocorrência de overdose é favorecida.        Em segunda instância, se por um lado as altas doses podem gerar consequências drásticas, por outro, o consumo indiscriminado dos antibióticos favorece o aumento da resistência das bactérias e a dificuldade no tratamento de doenças. Nesse âmbito, após 1928, ano da descoberta da Penicilina, o composto foi utilizado em larga escala para tratar as doenças bacterianas. Entretanto, apesar do êxito inicial, o uso desenfreado do antibiótico e seu abandono aos primeiros sinais de melhora, comuns na automedicação, foram essenciais para o surgimento de bactérias super-resistentes. Prova disso é que, em 2017, a Organização Mundial da Saúde divulgou doze patógenos resistentes à Penicilina, de modo a demonstrar a necessidade do controle na utilização desses medicamentos.        Urge, portanto, a adoção de medidas que solucionem o impasse. Destarte, cabe ao Ministério da Saúde, em parceria com a mídia, produzir e divulgar campanhas que conscientizem a sociedade acerca da importância da consulta a especialistas antes de fazer uso de quaisquer medicamentos; além disso, é necessária a criação de um site, que conte com a participação de médicos e farmacêuticos que esclareçam dúvidas da população no que diz respeito à composição e impactos dos remédios, para que, assim, os efeitos ocasionados pela automedicação não se tornem o “mal do século”.