Enviada em: 21/10/2018

"Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que vendo não vem". O excerto da obra modernista "Ensaio sobre a Cegueira" de José Saramago, crítica, por meio do uso das metáforas, a alienação de uma sociedade que se torna invisual. Fora do universo literário, tal obra atemporal não foge da cegueira contemporânea na qual o tecido social brasileiro não enxerga a automedicação. Nesse aspecto, dois fatores são relevantes: a inobservância governamental e a questão histórica.    Em primeiro plano, vale ressaltar, que a negligência do governo é uma das principais causadoras do impasse. Destarte, o Iluminista Rosseau, no contexto da Revolução Francesa, afirma o papel do Estado em garantir a igualdade jurídica. Contudo, a prática deturpa a teoria, embora o direito à saúde seja constituído pela Constituição Federal de 1988, para muitas pessoas tal garantia é negada. Em virtude do frágil investimento do poder público para atenderem e medicarem as pessoas nos centros hospitalares, por consequência disso a população tem cada vez mais se automedicado sem a consulta do médico proporcionado danos à saúde e até mesmo a morte. Dessa forma, é inadmissível que às demandas do meio social retratada no século XXI ainda persistam nos dias atuais.   Outrossim, não obstante, convém frisar que a herança histórico-cultural potencializa atos inconstitucionais. Isso ocorre desde o final da Idade Média quando o ato de se automedicar foi amplamente visível, época das grandes navegações, aonde os viajantes - sem acesso médico - levavam plantas medicinais e remédios em viagens. Análogo a isso, a sociedade, então, por tender a incorporar as estruturas sociais que são impostas à sua realidade, conforme defendeu o sociólogo Pierre Bourdieu, naturalizou e reproduziu o pensamento da problemática passível e alheia de soluções. Dessa maneira, não é à toa que morrem mais de 20 mil pessoas por medicação sem controle médico  por ano no Brasil, segundo o site Isaúde.     Torna-se evidente, portanto, que a automedicação representa um antagonismo a ser combatido. Para tanto, cabe o Ministério da Saúde, em parceria com a Constituição Federal, criar um projeto para combater a automedicação no Brasil, por intermédio de contratações de mais médicos, com o fito de os hospitais e postos de saúde atenderem a esfera nacional que precise ser medicada e os médicos preencherem o medicamento correto para os pacientes. Nessa ação, as pessoas serão guiadas a não abusarem o uso da medicação e guiadas ao uso correto para que possam ter o tratamento adequado com segurança e sem riscos colaterais. Desse modo, o dever moral será feito e a cegueira combatida, pois parafraseando Saramago 'Se pode olhar. 'Se pode reparar'.