Enviada em: 26/10/2018

O uso dos recursos da natureza para fins medicinais foi um dos legados indígenas no Brasil. Através de simples infusões, a sociedade passou a tratar certos males em casa. Com o avanço da medicina moderna, muitos desses conhecimentos se transformaram em vacinas capazes de atender um número maior de pessoas. Porém, do campo empírico ao científico, a pratica da automedicação se consolidou no país trazendo à tona outras nuances negativas da saúde pública nacional, já fragilizada em muitos sentidos.                Indubitavelmente, essa postura paliativa em torno do tratamento de muitas doenças têm raízes fincadas na própria ineficiência do Sistema Único de Saúde (SUS). Isto porque, para a massa populacional que depende desse serviço, nem sempre é possível ser atendido por um médico e/ou tampouco encontrar remédios gratuitos. Então, desamparados, parte dá sociedade passa a ingerir por conta própria aquilo que acredita ser benéfico à saúde. Entretanto, o Ministério da Saúde tem alertado sobre o agravamento de certos quadros patológicos devido a essa automedicação, o que resulta em mais gastos públicos e pessoais.                A ingestão de medicamentos também é danosa para a comunidade científica, no que se refere a busca para a cura de muitas doenças. Sem o devido acompanhamento especializado, alguns males tratáveis podem desenvolver outras anomalias nocivas à sociedade. Foi o que aconteceu com a dengue, por exemplo. Em seu surto, várias pessoas se automedicavam, então, sem prescrição médica, o vírus transformou-se em hemorrágico, causando diversos problemas a saúde pública em meados dos anos 2000.              Além de agravar quadros patológicos e inviabilizar o tratamento e cura de muitas doenças, a automedicação é o reflexo do descrédito social para com os serviços públicos de saúde. Outrossim, retrata o desrespeito do Estado às pesquisas científicas tão caras a tal realidade. Sem contar questões ligadas ao suicídio por ingestão indevida de remédios, hipocondria e dependência química.          Portanto, apesar de curandeirismo ter legado conhecimentos cruciais para a ciência farmacológica, é preciso ter cautela antes de usar esses saberes no  campo científico. Assim, o próprio SUS deve criar campanhas midiáticas/educacionais difundindo os riscos que aguardam aqueles que se automedicam. Ao mesmo tempo, investir na qualidade dos serviços públicos de saúde, sobretudo no acesso a medicamentos gratuitos e de qualidade. Aos poucos, a sociedade passará, enfim, a dar crédito à saúde e a ciência.