Enviada em: 01/11/2018

O filósofo Immanuel Kant relatou que, durante um período de sua vida, esteve em um “sono dogmático”, totalmente cego às ocorrências ao seu redor. Analogamente, no limiar do século XXI, a sociedade brasileira encontra-se nessa mesma obscuridade ignorante, quando se diz respeito à pedofilia na internet. Com o advento tecnológico, a internet tornou-se o âmbito perfeito para que pessoas mal-intencionadas abusassem da inocência das crianças e, consoante a isso, a própria omissão familiar e o controle ineficiente do governo transformaram esses crimes cibernéticos em uma problemática que acomete todo o país.      Em primeiro lugar, as frágeis relações familiares facilitaram o contato entre indivíduos com segundas intenções e as crianças. Segundo o filósofo Zygmunt Bauman, a sociedade vive em uma modernidade líquida, onde as relações tornaram-se frágeis e o individualismo, preponderante. Consoante à ideia de Bauman, a situação entre pais e filhos está a desmoronar, haja vista que os meios de comunicação tomaram o lugar das relações sociais e os responsáveis encontram-se omissos no dia a dia do filho. Desse modo, fica claro que esse distanciamento cria uma maior liberdade no uso da internet, entretanto, também acarreta em uma maior possibilidade de os pedófilos se aproximarem e obterem a confiança da criança de forma muito mais rápida.     Outrossim, o próprio governo não possui um êxito total para combater esse impasse. Está presente no artigo 227 da Constituição de 1988 que é dever da União zelar pela saúde física, mental e integridade moral dos jovens. Todavia, essa lei não é aplicada integralmente na prática, visto que, segundo a Polícia Federal, houve um aumento de 50% nos casos de pedofilia e transmissão de fotos eróticas de crianças pela internet. Ademais, quando ocorre a prisão do aliciador, por faltas de provas e denúncias, ele é solto ou é sentenciado a somente metade da pena prevista, o que leva a uma gradativa banalização do ocorrido e uma persistência do problema.     Em síntese, pode-se notar a tamanha importância de se resolver essa adversidade. Caberá, então, ao Ministério da Educação, em parceria com as escolas e famílias, de criar o projeto “Não te Conheço”, onde, em palestras, serão disponibilizadas aos pais uma “Cartilha de Denúncia ao Abuso (CDA)” com os principais fatores que eles devem se atentar quando o jovem está na internet e o passo a passo do que deve ser feito, caso a criança sofra uma tentativa de abuso, a fim de que a justiça possa obter o maior número de informações para julgar o culpado na íntegra. Desse modo, a sociedade acordará de seu "sono dogmático", tomará noção da gravidade desse problema e poderá proteger as crianças de pessoas mal-intencionadas.