Enviada em: 02/11/2018

Ao refugiar-se no Brasil em meados do século XX, o escritor austríaco Stefan Zweig, fascinado pelo potencial da nação, escreveu um livro ufanista cujo título é até hoje repetido:"Brasil, país do futuro". No entanto, quando se observa a deficiência de medidas na luta contra a pedofilia na internet no Brasil, hodiernamente, verifica-se que essa profecia é constatada na teoria e não desejavelmente na prática. Nesse sentido, torna-se evidente o menoscabo governamental e a negligência familiar, bem como a necessidade de uma ação conjunta do governo com o corpo social para solucionar o impasse.    Mormente, é indubitável que a questão constitucional e sua ineficiência estejam entre as causas do problema. Segundo o filósofo Aristóteles, a política deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De maneira análoga, é possível perceber que a impunidade em relação aos crimes de pedofilia na internet rompe essa harmonia, apesar da existência de uma lei específica que criminaliza tal prática. Destarte, é mister afirmar que a regra desamparada não muda a realidade, visto que é ineficiente sua fiscalização e aplicação. Dessa forma, a ineficácia coercitiva de um fato social, como a justiça, conforme afirma o sociólogo Émile Durkheim, facilita o estado de anomia, um risco à saúde física e mental das vítimas.     Ademais, os pais são agentes que corroboram a essa prática criminosa, por causa da falta de diálogo com seus filhos. Isso pode ser justificado pelo conceito de "modernidade líquida", de Zygmunt Bauman, que explica a queda das atitudes éticas, a fim de atender aos interesses pessoais, aumentando o individualismo. Desse modo, os progenitores, ao estarem imersos nesse panorama líquido acabam por perpetuar a exclusão informacional dos progênitos, por meio da escassez de ensinamentos sobre o uso e perigos da internet, além de conversas sobre temas considerados polêmicos, como o abuso.    Urge, portanto, políticas públicas para mitigar os crimes de pedofilia na internet. Para que isso ocorra, a Polícia Civil deve criar uma ouvidoria online pública para receber denúncias anônimas de pedofilia, investigando e punindo os infratores de forma rigorosa, de modo que se reduza os casos de tais abusos. Além disso, o Ministério das Comunicações deve veicular uma campanha de cunho educativo, na televisão e na internet, que explique o comportamento abusivo dos criminosos e os meios de denúncia, além de incentivar o diálogo familiar, sem estigmas, a fim de que se extermine o individualismo nas famílias e se tenha uma população bem informada. Assim, talvez, a profecia de Zweig torne-se realidade.