Enviada em: 18/05/2018

Historicamente a humanidade inova - através de sucessivas revoluções agrícolas - na produção de alimentos, a fim de suprir uma das sensações mais primitivas: a fome. Por sua vez, como observado pela saída do mapa da Fome, o país tem obtido êxito no combate à essa mazela histórica. Todavia, uma vez que essa carência está associada a desigualdade social,os avanços podem se esfarelar frente a crise. Dessarte, deve-se observar os fatores conjunturais e estruturais que a fomentam.    Essa reflexão é necessária visto que o cenário econômico se coloca como uma ameaça às conquistas sociais. Recentemente, sobretudo com programas de transferência de renda, o país conseguiu elevar a renda média e modificar a pirâmide social, retirando milhões da condição de miséria. Contudo, o otimismo construído no "país do futuro" é desmontado frente a atual crise. Pois, em face de uma recessão violenta - que já acumula uma queda superior 7% no PIB e um 14 milhões de desempregados (IBGE) - esses avanços se mostram frágeis. A inconsistência é latente no retorno de 3 milhões à pobreza (Banco Mundial) - que tem como um de seus agravantes a política de austeridade promovida pelo governo, vide redução de aproximadamente 1.5 milhão no número de beneficiários do Bolsa Família (Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário).       Isso posto, Casa Grande & Senzala (Gilberto Freire) reflete a o quão estrutural é esta questão. Essas desigualdades, que tem como raíz a concentração de renda nas mãos de poucos, repercutem numa sociedade na qual uma elite usufrui das riquezas enquanto para a massa é relegada uma condição de vulnerabilidade - no extremo para a fome. Essa realidade é perpetuada sobretudo pelo patrimonialismo brasileiro, existente desde as capitanias e continuado pelas oligarquias - como os cafeicultores na Velha República e os empreiteiros e políticos envolvidos nos escândalos de corrupção. A atualidade disso fica latente, por exemplo, no fato de que os recursos disponibilizados para o Bolsa Família serem dez vezes menores que os subsídios concedidos às grandes empresas - o "bolsa empresário" que, inclusive, resistiu aos cortes orçamentários - (Ministério da Fazenda).       Fica evidente, portanto, que - por resistir às desigualdades - o povo brasileiro é, antes de tudo, um forte. Assim, é necessário que a justiça social se torne uma política de Estado. Para isso, cabe ao próximo governo conduzir uma agenda de reformas - com debates e plebiscitos que engajem o Congresso e a sociedade civil -  para dirimir as desigualdades. Nesse pacote deve estar, a titulo de exemplo, a otimização dos programas sociais - que além do carácter assistencialista devem contribuir para a emancipação dos atendidos através de qualificação educacional e inserção no mercado de trabalho. Desta forma, será possível mitigar o fantasma do retorno ao Mapa da Fome.