Enviada em: 23/10/2017

Na obra “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Johann Goethe, o protagonista comete suicídio em função do sofrimento de um amor não correspondido. A temática da infelicidade abordada pelo romance fez com que parte do público-leitor passasse a ver a morte como uma forma de libertação, levando a centenas de autocídios. Embora date de séculos passados, a problemática persiste inserida na sociedade brasileira, seja pela isenção coletiva em negar o assunto, seja pelo desinteresse público em oferecer programas preventivos, contribuindo, assim, para a cristalização do problema.     Em primeiro lugar, é necessário destacar a padronização da sociedade moderna como impulsionadora da alarmante taxa de suicídio no Brasil, a qual aumentou 60% desde 1980, segundo o Mapa da Violência. A recente ditadura da felicidade, em que sentimentos humanos elementares, como angústia e tristeza, são repelidos, sendo, inclusive, passíveis de medicalização, compromete potencialmente o tratamento preventivo ao suicídio. Essa ideia de encarar as emoções humanas com medicamentos reflete o desinteresse da sociedade em discutir e tratar as causas, contribuindo para o silenciamento do assunto. Desse modo, a visão compartilhada de que o suicídio é motivo de vergonha legaliza o assunto como tabu, comprovando a ausência de laços e redes capazes de proporcionar acolhimento ao sujeito e sua tristeza.       Segundo Émile Durkheim, sociólogo francês, o suicídio é resultado do meio social que circunda o ser. Conforme tal pensamento, as opressões sociais, tais como o bullying e a homofobia, demonstram que o assunto não deve ser tratado de forma individual. Entretanto, a carência de um atendimento público especializado, capaz de discutir e cuidar do problema, evidencia o desinteresse governista em tratar o suicídio como um problema de saúde pública. De acordo com a OMS, 90% dos casos de suicídio podem ser evitados quando há oferta de ajuda. Diante disso, é notório o despreparo público acerca da prevenção do suicídio, agravando a problemática no país.       Torna-se evidente, portanto, que o suicídio, resultado de fatores sociais desarmônicos, ainda é velado no panorama brasileiro. A fim de atenuar o problema, o Ministério da Saúde, junto às escolas, deve promover o treinamento de profissionais da educação para identificar tendências depressivas nos jovens e utilizarem as obras literárias que retratem o suicídio, promovendo a reflexão e discussão responsável sobre o assunto. Além disso, cabe à mídia, divulgar campanhas de valorização à vida e o incentivo à procura de auxílio, levando também a discussão à família, evidenciando a importância de o assunto ser tratado em casa. Dessa forma, será possível a construção de uma sociedade mais empática.