Enviada em: 09/07/2019

No Brasil, em decorrência da falta de criticidade de muitos cidadãos, tornou-se corriqueira a compreensão de que a "cibercondria" não afeta a dinâmica atual. No entanto, embora essa perspectiva permaneça no senso comum, naturalizando esse modo de pensar, é preciso notar o quão ingênuo esse ponto de vista é ao desprezar aspectos sociais e culturais.   A globalização e o aumento na possibilidade de acesso à informação trouxeram essa doença à tona. A qualidade dos atendimentos médicos desestimula a ida a uma consulta. O "Doutor Google" pode errar e influenciar as pessoas a passarem por tratamentos equivocados. Esses entendimentos sobre as patologias cibernéticas, mesmo que simplistas, tendem a ressaltar fatores que colocam toda a população em risco. Em geral, quando a sociedade não se predispõe a assumir posturas críticas e sensatas, toda a atualização de valores fica propensa a exaltar padrões de conduta nocivos e desvirtuados que banalizam tal problema. Como se não bastasse, há de se atentar, também, à forma perniciosa como diversos segmentos sociais se comportam diante desse assunto, exaltando tratamentos alternativos e a automedicação além de subestimar a ida a consultas e o diagnóstico profissional. De fato, esse problema tem a capacidade de agredir o presente e violentar o futuro.   Por conta disso, no debate acerca da presunção de doenças e sua falsa confirmação via internet, é preciso enfatizar a urgência do investimento em um maior senso de corresponsabilidade coletiva. Dessarte, em consonância com as ideias da Teoria da Coesão Social, de Durkheim, e do poeta John Donne, não se deve perguntar por quem os sinos dobram, deve-se notar que dobram por todos. Desse modo é possível evitar a proliferação de posturas meramente acusatórias que, além de desprezarem a atuação pouco eficaz ou inexistente de agentes públicos em prol da criticidade cidadã, também agenciam o aborto de sonhos e o assassinato de esperanças, ao passo que uns não alertam aos outros sobre os perigos de uma atitude "comum" que pode garantir o avanço de doenças graves e até a morte. Sob essa égide, mais do que se eximir da culpa para apontar culpados, os brasileiros devem atentar-se ao seu poder de ingerência e resolução.   Sem dúvidas, quando restrita a fatores inoportunos, qualquer iniciativa contra a  "cibercondria" está fadada ao insucesso. Assim, faz-se necessário que o Estado, por meio da parceria entre dos Ministério da Saúde e da Educação com mídias sociais, conscientize os internautas desde a base até o ápice etário, estimulando o desenvolvimento da criticidade para inverter o paradigma atual, garantindo a informação sobre a necessidade da consulta médica quando sintomas aparecerem e os riscos da automedicação e uso de tratamentos alternativos.