Enviada em: 04/08/2019

A revolução digital vivida a partir dos anos 1980, com advento da internet, trouxe uma nova forma do homem enfrentar o mundo. A cibercondria surge dessa realidade, cujo excesso de informações, a disponibilidade demasiada de fontes e a falta de senso crítico da população convergem para este inusitado agravo a saúde. Essa espécie de hipocondria digital moderna torna-se um problema à medida que associa-se à automedicação e ao autodiagnóstico apontando para uma questão social importante, sendo um indicativo de que a tecnologia, até certo ponto, nos excedeu.        É importante salientar a princípio, que 26% dos brasileiros, segundo o próprio Google, recorrem primeiro a internet ao ter problemas de saúde. Há uma inversão no padrão de acesso e utilização de informações e dessa maneira, no relacionamento das pessoas com a tecnologia. Vive-se numa modernidade de resoluções rápidas em que até o fato de ir ao médico pode ser substituído pelo clique nos sites de saúde ou pelos vídeos do Youtube. Bauman, sociólogo contemporâneo, a isso chamou de “medo líquido”, o estado de acúmulo e mau uso de informações que leva a sociedade a uma ansiedade constante, que neste caso, evidencia tanto nossas doenças como nosso modo de vida. Não raro, complicações são advindas deste processo.        Dessa forma, práticas como autodiagnóstico e automedicação com auxílio da internet são utilizadas por 40% da população para tratamento e instituição de terapias, segundo dados do Instituto de Ciência, Qualidade e Tecnologia (ICQT), sobretudo por aquela parcela que não possui plano de saúde. É um problema social no qual deve-se observar que a oferta precária de serviços associa-se à veiculação de informações equivocadas em um cenário que põe em risco todo um segmento em consultas, por exemplo, por meio do controverso “dr. Google”. Ali, um gripe pode ser um pneumonia e um câncer uma simples dor no estômago. A interpretação errada de sintomas, a confusão nos exames e a postergação de doenças graves acarretam em risco de vida.        Assim, é fundamental a elaboração de um site informativo, pelo Ministério da Saúde, desenvolvido por especialistas da rede pública de saúde, de fácil acesso e leitura, que contenha informações sobre saúde e tratamento de doenças vinculadas à marcação de consultas médicas de forma a propiciar acesso aos serviços. Bem como, o estabelecimento de avisos de alerta, pelo Google e sites de busca, semelhantes ao usados em propagandas televisivas de medicamentos, em páginas de conteúdos em saúde, de forma a dirimir erros perfeitamente evitáveis e acabar com uma prática desnecessária, levando à consciência que a internet pode ser usada para tudo, menos como remédio.