Enviada em: 24/06/2019

Observando o cenário das ocupações urbanas no Brasil, formado a partir da segunda metade do século XX, percebe-se o crescente contingente populacional que as grandes cidades receberam e ainda recebem, especialmente a região sudeste do país. Despreparados para atender às altas demandas estruturais que surgiram, esses centros urbanos atualmente enfrentam problemas decorrentes de seu crescimento desordenado e, diante desse aspecto, convém avaliar os impasses decorrentes desse fenômeno.        A série 3%, produzida pela provedora global de filmes Netflix, mostra uma realidade distópica em que existem dois lugares extremos: O Continente, onde a maior parcela da população vive, carente de infraestrutura e recursos necessários à sobrevivência humana, e o Maralto, lugar luxuoso, tecnológico e abundante em oportunidades para seus habitantes. Fora da ficção, indivíduos se deslocam em direção às grandes cidades, buscando melhores oportunidades e condições de vida para si e sua família, mas a maior parte deles acaba ocupando as regiões periféricas das localidades de destino, por conta da voluptuosa densidade demográfica e da falta de planejamento urbano. Consequentemente, áreas como encostas de morros, margens de rios e córregos passam a sofrer, perigosamente, a ação humana.     "Tentamos proteger a árvore, esquecidos de que é ela que nos protege.", conforme Carlos Drummond de Andrade, em seu livro de aforismos "O Avesso das Coisas". Consoante ao autor, é fato que as coberturas vegetais são de extrema importância para a manutenção do equilíbrio ambiental e garantem uma menor erosão e sequente estabilidade do solo. As habitações construídas na periferia dos centros urbanos causam um grande impacto, tanto no saneamento do local - má destinação do lixo doméstico - como no relevo do terreno, sem passar por um estudo adequado antes da construção. Dessa forma, enchentes, deslizamentos, poluição de afluentes e lençóis freáticos ocorrem de forma que afete não somente o meio ambiente, como os seres humanos, vítimas de suas próprias intervenções.       Portanto, providências são necessárias para amenizar os efeitos da ocupação urbana desordenada. As prefeituras, em conjunto com os governos de seus estados, deverão realizar políticas públicas voltadas a um crescimento organizado, como por exemplo, aumentar a fiscalização em áreas sujeitas às intempéries climáticas, respeitando os limites ambientais, para que notícias de desabamentos nos períodos chuvosos do ano, concentradas na região sudeste do Brasil, sejam menos presentes, diferente da conjuntura atual. Além disso, o Ministério da Educação pode investir em universidades públicas e incentivar projetos de sustentabilidade que possam ser aplicados em benefício da sociedade, unanimemente ao educador Paulo Freire: "Sem um fim social, o saber será a maior das futilidades".