Enviada em: 19/02/2019

Em "20.000 Léguas Submarinas", Júlio Verne, há mais de cem anos, vislumbrara uma sociedade moderna imersa na evolução no otimismo. Contemporaneamente, no Brasil, essa ideia foi em parte consubstanciada. Entretanto, o pensamento retrógrado de oposição às cotas nas universidades vai de encontro à evolução proposta pelo autor. Desse modo, cabe debater acerca da necessidade social desse recurso e dos prejuízos do discurso meritocrático para a sociedade.          Diante desse cenário, o escritor alemão Jürgen Habermas, em sua obra "A Inclusão do Outro", afirma que incluir e amparar a todos os cidadãos deve ser compreendido como uma necessidade ética, uma prerrogativa para o bom convívio social. Indubitavelmente, o estabelecimento das cotas nas universidades vai ao encontro da premissa de Habermas, tendo em vista que atua como um mecanismo de inclusão. Tal medida de reparação histórica e social é fundamental para mitigar a desigualdade econômica e de oportunidades, o que, a longo prazo, é capaz de criar condições melhores para as minorias do país. Dessa maneira, é importante que seja assegurado esse direito.           Outrossim, o discurso meritocrático de parte da população - que é contra as cotas nas universidades - está diretamente relacionado à falta de empatia e ao egoísmo. Isso porque, segundo o filósofo Arthur Schopenhauer, o ser humano tende a estabelecer os limites do próprio campo de visão como os limites do mundo. Nessa perspectiva, muitos indivíduos, alienados em sua condição financeira favorável e imersos em privilégios, tomam sua realidade como uma verdade universal, ignorando as diferentes necessidades dos brasileiros e fortalecendo a ideia de que o mérito é o único fator que leva ao sucesso. Esse pensamento retrógrado é extremamente nocivo ao país, já que visa a manutenção do status quo de desigualdade. Dessa forma, é imprescindível uma mudança nessa conjuntura.               Urge, portanto, que medidas sejam implementados para garantir a permanência das cotas nas universidades. Nesse âmbito, o Poder Executivo Federal, em conjunto ao Ministério da Educação, deve elaborar um projeto que explique a necessidade de incluir a todos os indivíduos, ressaltando a importância das cotas para essa finalidade. Esse programa deve ser exibido na televisão, em horário nobre, em mídias de todo país, para que assim o alcance seja maior e mais pessoas possam ser conscientizadas, tornando mais próxima a realidade proposta por Júlio Verne.