Enviada em: 24/10/2017

A Política de Cotas Universitárias é Viável?    O poder público, dentre outros atributos, tem a função de corrigir distorções e equilibrar as condições dos cidadãos. Por isso arrecada impostos e oferece, em contrapartida, educação e saúde gratuitos. Mas existe no Brasil uma grande injustiça histórica advinda da prática da escravidão, que durou mais de dois terços da trajetória do nosso país.    A política de cotas tem-se tornado polêmica e encontrado muita obstrução, inclusive por iniciativa de afrodescendentes. Aqueles que são contrários às cotas alegam que elas discriminam ainda mais os negros, a partir do momento em que o colocam artificialmente em vantagem. Segundo eles, as cotas insinuam que são menos capazes que os brancos. Alguns brancos também se sentem prejudicados, alegando que as cotas deveriam utilizar apenas o critério econômico e não o racial.      Contudo, as cotas não têm o objetivo de menosprezar, individualmente, a inteligência de nenhum candidato. Ao contrário, a proposta de garantir sua vaga parte precisamente do pressuposto de que ele tem capacidade de cursar uma universidade. O que ocorreu, no entanto, é que, até há 130 anos, um negro não tinha propriedades, portanto não as transmitiram e como consequência, seus descendentes não tiveram as mesmas condições que os brancos. O Estado atua nesse ponto através das cotas: procura corrigir, ou pelo menos atenuar, uma distorção histórica. É por esse motivo que as cotas não são exclusivamente para pessoas de baixa renda e sim para negros de baixa renda, de forma específica, pois não se trata de um projeto de cunho econômico e sim racial.       A política de cotas não é um retrocesso, ao contrário, representa um grande avanço para a sociedade na medida em que busca garantir o acesso de uma parcela excluída do ensino universitário, de modo a incrementar, significativamente, a faixa de profissionais graduados afrodescendentes, proporcionando maior equilíbrio étnico em nosso país.