Enviada em: 03/08/2019

Trapiche Social    Sediado na Bahia do século XX, Capitães da Areia expunha em uma de suas denúncias sociais, a problemática habitacional de seus protagonistas. O sucateado trapiche ocupado pelas crianças escancarava a condição insalubre do ambiente a que se submetiam. No entanto, ainda que um cenário virtual criado por Jorge Amado, o déficit imobiliário é realidade de milhões de brasileiros. Esses, vítimas de inconsistentes medidas governamentais, e recente crise econômica, vêem-se fadados a encarar a preponderante crise habitacional no Brasil.   Em primeiro lugar, cabe ressaltar que o histórico de políticas irrisórias até hoje mostrou-se insuficiente para atender o déficit domiciliar. Diante dessa perspectiva, pode-se analisar que a reforma urbanista promovida por Pereira Passos, ex-prefeito carioca, propulsionou a favelização da cidade. No entanto, ainda que passado um século, o desfalque sofrido pela classe de baixa renda permanece vigente em contexto nacional. Ademais, é também fruto de outras fracassadas medidas de atenuação, a exemplo do projeto federal "Minha Casa, Minha Vida", que contrário à intenção primordial, agravou a problemática e culminou na inflação do mercado imobiliário.   Outrossim, a recente crise econômica mostrou-se um direto impacto na compra de imóveis, portanto, na pioria da gestão domiciliar. Posto ao contexto nacional da última década, a geral restrição financeira tornou-se a principal justificativa para o colapso habitacional. Assim, como resposta ao meio, os indivíduos afetados pelo crítico âmbito nacional, encontraram como solução a coabitação familiar, de maneira análoga às comunidades ecológicas, que por revezes ambientais, acabam por dividir um mesmo habitat. Com isso, há - em alguns casos - uma superlotação de prédios, vilas e construções antigas, que, sem fiscalização, podem apresentar um alto risco para seus residentes.   Fica claro, portanto, que medidas eficientes são necessárias a fim de atenuar o déficit habitacional no Brasil. Logo, urge da Secretaria Nacional de Habitação e do Ministério da Economia, por meio de parcerias público-privadas, impulsionar o mercado imobiliário e injetar capital financeiro na sociedade, a fim de ascender o setor. Além disso, é responsabilidade da Defesa Civil atuar com maior vigor em complexos superlotados, de modo a interditar e transferir famílias em risco para locais seguros, com o intuito de coibir o aumento de tais acidentes e corroborar uma melhor perspectiva de vida para as famílias, sendo elas habitantes de assegurados agrupamentos habitacionais. Destarte, antônima à realidade dos capitães da areia, o trapiche habitacional poderá ser posto como um distópico fardo social, livre de processos catárticos.