Enviada em: 21/08/2019

No século XVIII, o médico Edward Jenner desenvolveu a vacina contra a varíola por meio de procedimentos contrários à ética contemporânea -- a qual ainda não havia sido concretizada -- e contribuiu para os enormes avanços da medicina moderna. Entretanto, com o desenvolvimento e aprofundamento dos direitos humanos, experimentos como os de Jenner são proibidos por irem de encontro com a atual noção de moral. Notam-se, portanto, desafios que dificultam a conciliação entre biotecnologia e ética.   A princípio, a falta de respeito à diversidade põe em risco os avanços da biotecnologia, o que implica um desequilíbrio entre ciência e humanidade. A bióloga Jennifer Doudna, criadora da ferramenta CRISPR-Cas9 para a edição genética, expõe o perigo da modificação do DNA com viés hegemônico, isto é, editar determinadas características consideradas "melhores" a fim de levar a humanidade à homogeneização. Assim, com base em experiências anteriores, como na Alemanha nazista, em 1940, e sua inclinação para o uso do "filtro hegemônico" em prol da "raça ariana", entende-se que o desrespeito à diversidade é um dos impasses criadores de opiniões divergentes quanto aos investimentos nessa área científica.   Além disso, a competição entre nações somada ao uso inconsequente das tecnologias encontra desafios na área das ciências biológicas. O físico Stephen Hawking, assim como Jennifer Doudna, discutia a insaciedade da mente humana acerca dos avanços científicos e, segundo ele, o ser humano  tende a caminhar em direção à autodestruição. Com isso, a gradual substituição do natural pelo artificial  -- e do ético pelo produtivo -- gera consequências irreparáveis ao ambiente e à humanidade, o que torna-se perceptível, por exemplo, com o aumento de 20%, de acordo com o INPE, do desmatamento da Amazônia para a instalação de monoculturas e maior competição com outros países no mercado externo.    Uma forma de conciliar a biotecnologia e a ética é, portanto, com a atuação das escolas. Elas têm o papel de educar seus alunos, funcionários e comunidade sobre o respeito à diversidade e a boa prática científica, por meio de palestras com profissionais das ciências humanas e naturais -- os quais devem discutir sobre a concordância entre bioética e tecnologia -- e de atividades, como teatro e pintura, que estimulem o pensamento crítico a respeito da relação entre ciência e humanidade, a fim de buscar sua coesão. Dessa forma, será possível facilitar o desenvolvimento biotecnológico sem desrespeitar os direitos humanos e sociais.