Enviada em: 26/08/2019

Em sua obra “A Cidade e as Serras", o autor português Eça de Queiroz louva a quantidade de tecnologia e os avanços científicos gerados pela modernidade. Fora das páginas, é fato que o crescimento da tecnologia aliado ao ser humano também é imprescindível para o progresso da humanidade – como a ascensão da biotecnologia no combate e descoberta precoce de doenças. No entanto, com o avanço de técnicas biotecnológicas, também existe uma preocupação com os problemas que esses processos científicos podem causar. Dessa forma, a utilização da ciência para usufrutos particulares que não culmina em um real bem-estar da humanidade merece um olhar mais crítico de enfrentamento.     A princípio, reconhece-se que a ética é uma qualidade intrínseca ao indivíduo que é estudada desde as primeiras civilizações. Segundo o filósofo grego Aristóteles, a ética fundamenta-se na busca incessante pela felicidade coletiva, de modo que todas as ações humanas, nos mais diversos âmbitos, almejem esse fim. Diante disso, é praxe reconhecer que a ciência, assim como toda ação humana, deve, em suma, proteger os interesses coletivos para ser considerada ética, e, portanto, correta pela humanidade.     Nesse contexto, pode-se entender que se a biotecnologia moderna atua de modo parcial, buscando satisfazer interesses particulares, ela deixa de ter seu fundamental papel e, consequentemente, deixa de ser ética. Acerca disso, a advogada brasileira Renata da Rocha disserta que o uso da biotecnologia para satisfazer necessidades particulares, como escolher a cor dos olhos do embrião a ser implantado em uma mulher por fertilização “in vitro", é desrespeitar a natureza humana. Desse modo, por mais que a ciência tenha que buscar melhoramentos para a humanidade, utilizá-lo para fins supérfluos e anti-humanos – como o caso dos olhos azuis – é pautar a ciência não mais como algo benéfico à humanidade, mas sim como um impasse a um saudável progresso humano.    Destarte, medidas precisam ser tomadas para que a ética possa caminhar juntamente com o crescimento biotecnológico. Para tanto, é mister que o Ministério da Ciência e Tecnologia crie uma campanha nos laboratório der biotecnologia do país, por meio de vídeo-palestras, que atentem para o real objetivo da ciência – que é o aprimoramento coletivo da humanidade. Dessa forma, construindo uma bioética institucionalizada pelo Estado, é passível de concepção um mundo onde os “olhos azuis" não sejam uma preocupação daqueles que podem, ao invés de atuarem arbitrariamente, buscar reais curas para as enfermidades humanas.