Enviada em: 27/07/2018

O escritor português Valter Hugo Mãe, no livro "A máquina de fazer espanhóis", aborda, com maestria, diversos dos problemas pelos quais passam os idosos. Dentre eles, destaca-se a dificuldade de conectar-se com as novas gerações. Esse processo poderia ser muito mais facilitado caso houvesse uma plena integração digital da terceira idade. No entanto, essa maior integração enfrenta desafios, sobretudo, quanto à interface dos dispositivos e a falta de pessoas com disposição para ensinar os mais velhos a lidar com as novas tecnologias.  Primeiramente, o próprio dispositivo eletrônico costuma apresentar barreiras ao público de mais idade. Conforme destacado em recente estudo publicado na revista da PUC-SP, o tamanho e o tipo de fonte, o tamanho dos ícones, o contraste das cores, assim como o design de interação são fatores que podem dificultar a vida de um usuário idoso. Como consequência, representantes da terceira idade, normalmente, são menos capazes de aprender por si mesmos as funcionalidades do equipamento - quando comparados aos mais jovens - e precisam de auxílio para usufruir plenamente das novas tecnologias.  Contudo, muitas vezes essa ajuda necessária não é encontrada. Prova disso é o sucesso do projeto "Neto de Aluguel" criado por Ramon Miranda para explorar comercialmente essa demanda. Mas, como o próprio Ramon destacou em entrevista recente, a solução via mercado não solucionará o problema do analfabetismo digital na terceira idade, devendo ser apenas um complemento ao real envolvimento das pessoas queridas.  Portanto, para mitigar os desafios da inclusão digital da terceira idade, é imprescindível que os fabricantes de tablets e smartphones desenvolvam produtos que facilitem a leitura - com maiores telas e resolução - do público idoso. Paralelamente, faz-se necessário que famílias e escolas ensinem os jovens da geração de centenials - cujos representantes já convivem desde a mais tenra idade com artefatos tecnológicos - a importância de, com muita paciência e carinho, ajudar a promover a inclusão digital de seus avós. Por fim, no curto prazo - até que os jovens tomem consciência da sua importância nesse processo de integração - é importante que a oferta de soluções paliativas, como o projeto “neto de aluguel” e cursos oferecidos pelo SESC e SENAC, sejam ampliadas.