Enviada em: 02/11/2018

"O homem nasce livre e por toda parte encontra-se acorrentado". Sob tal ótica, é válido relacionar a frase de Jean Jacques Rousseau com as dificuldades enfrentadas pelos idosos para se integrarem na era digital, posto que nasceram fora desse meio e não acompanharam ativamente o desenvolvimento tecnológico. Nesse contexto, é oportuno salientar como o recente aumento da terceira idade, aliado à falta de acesso ao ensino da ciência, são fatores corroborativos nessa problemática, configurando um grave problema social.       Mormente, como consequência dos avanços da medicina, a expectativa de vida da população aumentou mais de 30 anos desde 1940, sendo o número populacional de idosos correspondente à 26 milhões, consoante dados do IBGE. Não obstante, estima-se que pouco mais de 5 milhões utilizam a internet, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva. Apesar dos números indicarem avanço quando comparados há anos atrás, é indubitável que não representa o ideal. Nesse âmbito, conforme Émile Durkheim, o fato social, por ser a maneira coletiva de pensar e agir, exerce uma pressão coercitiva sobre os indivíduos. Destarte, a terceira idade, apesar de possuir interesse em se enquadrar, se vê excluída socialmente desse comportamento digital presente na hodiernidade.       Em paralelo, a ausência de acessibilidade é um fator determinante. O Estatuto do Idoso estabelece que é obrigação do Poder Público e da família garantir a qualidade de vida dos anciãos. Sem embargo, tal decreto não é desempenhado eficientemente, visto que o Governo não atende de forma ampla essa parcela da sociedade, faltando alcançabilidade aos cursos oferecidos de inclusão tecnológica, limitados a poucos lugares e, normalmente, privados. Concomitantemente, há ainda, no Brasil, uma cultura que relativiza a questão da terceira idade, que valoriza somente os interesses individuais e subestima a figura do idoso. Assim, sendo esse egoísmo é constatado na negligência dos filhos, que, muitas vezes, não detém paciência para orienta-los perante a questão.       Infere-se, portanto, que ações são necessárias para findar com a exclusão digital dos idosos no Brasil. É imperioso que o Governo Federal, em parceria com o Sesc, ofereça cursos gratuitos de inclusão digital para idosos, englobando os sistemas Android, IOS e Windows, com o o objetivo de atender o máximo de pessoas. Outrossim, cabe a mídia, por meio de apoio do Governo Federal, realizar campanhas para orientar os filhos a lidarem com a situação, a fim de criar uma consciência empática com a questão da terceira idade. Sob tal perspectiva, poder-se-á viver em um mundo em que a frase de Jean Jacques Rousseau já não condiga tanto com a realidade.