Enviada em: 18/02/2019

Sob a perspectiva antropológica de Claude Levi-Strauss, pai do estruturalismo, é necessário entender o mecanismo funcional de um corpo social para obter uma compreensão profunda dele e de seus conflitos. Nesse sentido, a problemática do baixo acesso de pessoas da terceira idade ao universo digital, lamentavelmente perceptível no cotidiano, instiga a sociedade a refletir sobre os desafios da questão e fatores que favorecem esse revés. Assim, é lícito afirmar que, no contexto brasileiro, o Estado, com sua ineficiência administrativa, além da postura inerte de parcela dos núcleos familiares, colaboram para a perpetuação desse quadro.     Convém ressaltar, antes de tudo, que é ingênuo acreditar que o Governo cumpre seu papel no que se refere à questão. Apesar de existir, de fato, ações que visam garantir o bem estar da parcela mais velha da população, como o Estatuto do Idoso, instituído em 2003, apenas medidas pontuais dessa natureza são incapazes de inserir o público longevo na dinâmica das novas tecnologias, como smartphones e tablets por exemplo, visto que, tratam o idoso como indivíduo passivo, que não tem consciência do meio que o cerca, ou seja, alguém sem voz ativa na sociedade. Destarte, constata-se que as políticas públicas desconsideram o potencial do público senil de reter novos conhecimentos e desenvolver habilidades, levando-os a uma estagnação tecnológica. Prova disso é a grande maioria das pessoas com idade avançada optar pelo uso de aparelhos celulares de modelos analógicos, uma vez que possuem manuseio mais simples.     Outrossim, não há dúvidas de que a conduta inativa da maior parte das famílias que possuem idosos entre os agregados contribui para o impasse. Ao longo do tempo, criou-se a concepção equivocada do ancião como ser não participativo e alheio ao moderno. Dessa forma, à medida que não é motivada pelo seu grupo a aventurar-se pelas possibilidades do mundo virtual, por sua vez, a pessoa é condenada a permanecer no analfabetismo cibernético. Sob esse aspecto, John Locke diz: ''O ser humano é como uma tela em branco que é preenchida por experiências e influências''. Desse modo, vê-se que, sem estímulo para com o idoso, a inclusão digital da dita ''melhor idade'' torna-se utópica.    Torna-se evidente, portanto, que ações são necessárias para alterar essa conjuntura. Para que isso ocorra, o Poder Legislativo, em parceria com Organizações não Governamentais que promovem o acesso à tecnologia, por meio de um amplo debate entre Estado e sociedade civil, deve agir para inserir no Estatuto do Idoso um capítulo referente ao direito ao aprendizado de novas tecnologias, que estabelecerá aulas de informática em ONG's. Somado a isso, tais ONG's devem oferecer palestras a familiares, com o intuito de transmiti-los como inserir em casa os mais velhos no progresso tecnológico.