Enviada em: 13/10/2018

No início do século XX, o centro urbano do Rio de Janeiro, onde, a princípio, residia a população mais pobre, encontrava-se em estado de calamidade, sem mobilidade, saneamento básico - propiciando a proliferação de doenças - e o mínimo de infraestrutura. Tal cenário culminou nas reformas urbanísticas do Prefeito Pereira Passos, na qual este alargou ruas, inaugurou monumentos, como o Theatro Municipal, institui a vacina obrigatória e incrementou o saneamento básico, transformando o caos carioca em ''Cidade Maravilhosa''. Por conseguinte, ordenou a demolição dos cortiços, obrigando seus moradores a migrarem para os morros e periferias, iniciando assim, o processo de favelização da cidade.   Mais de cem anos depois, a questão do saneamento básico nas áreas mais pobres persiste. Ainda que a Constituição vigente assegure a universalização desses direitos, isso não é visto em prática na realidade brasileira. Esgotos a céu aberto, o não abastecimento de água potável, lixos na rua e a falta de coleta destes são problemas enfrentados diariamente por inúmeras pessoas ao redor do país, evidenciando o descaso governamental frente à essa problemática. Essas pessoas, esquecidas e exiladas nas periferias, não só estão colocando sua saúde em risco, como também sua integridade - visto as condições humilhantes a que estão sujeitas -, sendo o principal culpado o poder público.  Paralelo a tal situação, há ainda a negligência do Estado em relação à saúde pública. A coexistência entre a falta de recursos e a precariedade da saúde faz-se ilógico, visto que a contração de doenças provindas da insalubridade vivida nas periferias, como a febre amarela e a dengue - as quais sofreram surtos no país recentemente - necessita do apoio de hospitais, postos de saúdes e clínicas. Dessa maneira, sem o devido amparo, tais doenças irão se propagar, atingindo toda a população - não só a de menor poder aquisitivo, mas principalmente esta.  Em síntese, semelhante às reformas realizada por Passos, é necessário que haja uma revitalização das periferias pelo poder público, como a instalação de um saneamento efetivo e coleta de lixo regulares, assim como cabe ao Ministério da Saúde a intervenção nos focos de doença e campanhas de vacinação, visando a população mais carente. Ademais, o maior investimento pelo governo na saúde pública, principalmente nos postos de saúde, a fim de tratar pessoas já contaminadas por essas doenças faz-se essencial. À sociedade, compete a função de exigir do Estado o fornecimento de tais direitos, assim como também a realização desses projetos.  ''O Cortiço'', obra naturalista de Aluísio Azevedo, tem como pano de fundo as moradias insalubres as quais vivem seus personagens e, caso não fosse ambientada no século XX, poderia ser facilmente confundida com os dias atuais.