Enviada em: 02/09/2018

O caminho para livrar-se da droga pode ser mais tortuoso se depender do Sistema Único de Saúde (SUS). “Infelizmente, no Brasil, não temos um tratamento público para a maior parte dos dependentes químicos”, diz Ana Cecilia. Atualmente, para atender esses doentes, o governo federal mantém 8.800 vagas em hospitais psiquiátricos, 243 centros de atenção psicossocial álcool e drogas (Caps-AD), Núcleo de Saúde da Família e 35 Consultórios de Rua. É pouco se considerada a estimativa do Ministério da Saúde de 600.000 usuários somente de crack no país. A rede de saúde mental faz parte do SUS, que tem ações do âmbito federal, estados e municípios – é sempre este que responde pelo atendimento.   Daí o consenso de que é necessária uma abordagem multidisciplinar para que o tratamento seja eficaz. Desintoxicação, psicoterapia, terapia ocupacional e assistência social são apenas partes do tratamento. E há ainda quem defenda um componente religioso nessa recuperação do indivíduo. Porém, em regra, essa abordagem multidisciplinar ainda está completamente desarticulada no Brasil. Além da articulação, há necessidade de grande dedicação por parte de quem aplica o tratamento. O atendimento ao usuário exige habilidade e disponibilidade emocional dos profissionais envolvidos, o que demanda grandes investimentos, inclusive em treinamento. Essa necessidade é agravada ainda pelas recaídas, muito comuns, por outras doenças associadas, por problemas afetivos e com a lei. E o tratamento dessas questões é tão importante quanto livrar o dependente do abuso das drogas.   Segundo o psiquiatra e consultor da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, José Manoel Bertolote, “o sucesso de qualquer tratamento para dependência química passa pela vontade do usuário de se manter afastado da droga”. Ele se aproxima do conceito de abordagem multidisciplinar, ao lembrar que “a desintoxicação tem seu papel, no sentido de reduzir os danos a que está sujeito o usuário, mas é uma contribuição modesta. Um sólido sistema de apoio médico, psiquiátrico, social, familiar e psicológico é essencial”.   A rede de atendimento, em todo o País, é formada por 345 Caps AD, sendo que apenas 43 deles funcionam 24 horas. Nessas 43 unidades, há leitos para pacientes (430). Nos outros, é possível ter consultas, participar de atividades laborais, oficinas e receber medicações. A rede é capaz de atender 8,8 milhões de pacientes por ano, segundo o ministério.  É fácil tornar-se um dependente químico, mas é difícil fazer o caminho inverso, especialmente quando se depende do Sistema Único de Saúde, dizem os reabilitados.