Enviada em: 08/07/2018

Não são poucos os fatores envolvidos na discussão acerca dos dilemas da doação de órgãos. Em 1954, o médico cirurgião Joseph Murray realizou o primeiro transplante de órgão humano, substituindo o rim doente de um paciente por outro, doado pelo irmão gêmeo. Todavia, apesar dos avanços no campo da medicina, a doação de órgãos não é uma prática social habitual na contemporaneidade. Dessa forma, a fim de compreender o problema e alcançar melhorias, basta observar o papel da desinformação e do despreparo médico nesse cenário.     Em primeiro lugar, vale ressaltar que a ausência de informação populacional dificulta a ocorrência de transplantes no Brasil. Isso ocorre, principalmente, em razão de crenças infundadas, da incompreensão do óbito encefálico e da desconfiança no sistema público de saúde, culminando na recusa familiar. Por conseguinte, inúmeros pacientes lutam contra o tempo ao aguardar prologadamente na lista de espera por um transplante. Para ilustrar, o Brasil tem mais de 33 mil pessoas aguardando por um órgão, segundo dados do Sistema Nacional de Transplantes. Em vista disso, nota-se um paradoxo com a frase de Franz Kafka, escritor alemão, a qual diz que a solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana, uma vez que a doação de órgãos ainda é temida pelo corpo social.     Ainda nessa questão, é crucial pontuar que, a Legislação brasileira institui a legalidade sobre a remoção de órgãos, desde que autorizada pelo doador ou seu familiar responsável. Entretanto, a falta de preparo das equipes médicas ao abordarem os familiares a respeito da doação de órgãos impede o aumento dos transplantes. Vale salientar que, isso advém, sobretudo, da falta de um atendimento humanizado e esclarecedor a respeito do acontecimento. Com isso, estima-se que 47% das famílias se recusam a doar órgão de parente com morte cerebral, de acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos. Assim sendo, observa-se que a persistência dessa condição é produto de um sistema de saúde precário e despreparado.    Nesse sentido, ficam evidentes, portanto, os elementos que colaboram com o atual quadro negativo do país. Ao Ministério da Saúde, cabe à elaboração de palestras sociais públicas com rodas de conversa com especialistas da área de saúde, a respeito das especificações da morte encefálica e as peculiaridades da doação de órgãos, além de estimular a solidariedade social, com o objetivo de viabilizar a informação para a sociedade e esclarecer os estigmas e inseguranças existentes. É imprescindível, também, que as Universidades ofereçam cursos complementares e treinamentos aos alunos da área de saúde,  os quais devem estimular a empatia e preparar o médico para lidar com as pessoas e suas perdas, com o propósito de erradicar os obstáculos na doação de órgãos no Brasil.